O que, de fato, acontece. Francesca planeja, juntamente com Drácula, matar Felix e se apossar dos segredos de Frankenstein. Entretanto, o conde a trai e se junta ao Monstro e sua companheira. Encurralada e ressentida, Francesca manda um convite para It, que surge na Ilha, nos minutos finais do filme.
It é nada mais, nada menos, King Kong, o gorila gigante que apareceu pela primeira vez no filme de 1933, dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack. Com a chegada dele à Ilha - que, neste momento, pode também ser inferida como referência à própria Ilha da Caveira, lar original de Kong - não apenas o caos já existente devido a perseguição dos monstros a Felix e Francesca aumenta, como elementos apresentados anteriormente na narrativa ganham sua real função. Kong vê a foto de Francesca e se apaixona pela ruiva, seqüestrando-a; os aeroplanos do Barão são utilizados na reprodução da famosa seqüência em que o gorila é abatido no alto do Empire State, sendo o prédio substituído por uma montanha da ilha.
Contudo, como dissemos, existe também um segundo mistério no filme, implícito nas entrelinhas e que se faz totalmente claro ao final do filme. A verdadeira natureza de Francesca. Pistas são lançadas no decorrer da história.
Quando a moça surge pela primeira vez, o Dr. Frankenstein solta a seguinte fala:
Vê-la todo dia me dá grande prazer, se eu puder dizer, é uma obra de arte [referindo-se à Francesca, mote que ela própria retoma em diálogo com Felix ao fim do filme, sobre ela ser uma "obra de arte"]
Pouco antes do jantar, quando o Monstro e sua companheira descem pela grande escadaria do castelo em direção ao hall de entrada, o Doutor cochicha com Francesca, que estão ao pé da escada, ao notar a expressão de desagrado da ruiva com a chegada dos dois monstros criados pelo Barão:
Lembre-se que somos todos uma família feliz aqui.
Tal fala é tomada, inicialmente, como algo metafórico e não literal, entretanto, a revelação final muda completamente seu sentido.
Depois de escapar do King Kong, sendo trocada pelo Barão, Francesca foge da ilha, de barco, com Felix. Logo após assistirem à destruição do lugar, ele se vira para ela, dizendo:
(...)Vamos nos casar. E logo haverá o som dos pequeninos Flankens correndo.
Francesca: Oh, Felix [chora]
Felix: O que foi? O que eu disse? Compraremos uma casa maior. Vou parar de espirar. O que foi?
Francesca: Nunca poderei me casar com você.
Felix: Não pode? Não me ama?
Francesca: Sim, eu amo. Por isso não posso me casar.
Felix: Tenho que lhe dizer algo. Não posso namorar você em selvas.
Francesca: Há uma coisa que eu preciso dizer. Nunca pensou por que eu estava naquela ilha? Não sou um ser humano como você. Fui criada por Frankenstein, depois do Monstro e sua companheira. Fui sua obra-prima. Onde outras mulheres têm um coração, eu tenho uma mola que vai desenrolar. Onde outras mulheres têm pulmões, eu tenho uma bomba que usa baterias e que gasta. Onde outras mulheres têm cotovelos e joelhos, eu tenho juntas metálicas que vão enferrujar e endurecer. Sou uma máquina com centenas de peças que vão acabar de desgastando.
Felix: Bem, Francesca, nenhum de nós é perfeito... [Click] Perfeito... [Click] Perfeito... [Click] Perfeito...
Deste modo, as pistas sutilmente lançadas no decorrer do filme acabam se encaixando ao descobrirmos que Francesca é uma criação do Barão. Por isso ela se considerava uma herdeira de direito, por isso ela foi apontada como a obra de arte, por isso o Barão a lembra que estão em família. Aqui, também temos outra dupla aproximação entre Felix e Francesca.
O verdadeiro nome de Francesca se revela como um nome duplamente fonético como o de Felix: Francesca Frankenstein, quase como uma Lois Lane - namorada e atualmente esposa do Superman, vulgo Clark Kent. Francesca pode ser reduzido para Frankie, que pode ser também diminutivo de Frankenstein, mostrando não ser por acaso esse o nome dela.
A segunda aproximação se dá através do estranho click que intercala a fala de Felix, como se ele fosse um robô que emperrou no meio de um procedimento, insinuando-se, que, assim como ela, ele não deve ser humano, mas sim, um construto.
A seqüência em questão é praticamente um diálogo do filme Some Like It Hot (EUA,1959), conhecido no Brasil como Quanto mais quente melhor. No filme original, roteirizado (em parceria com I.A.L. Diamond ), dirigido e produzido por Billy Wilder, Jerry/Daphne (Jack Lemon) tenta contar ao milionário Osgood Fielding III (Joe E. Brown), com quem se envolveu, que na verdade é um homem, enquanto estão ambos também fugindo em um barco, mas de mafiosos. Osgood apenas retruca:Ninguém é perfeito!
Entretanto, apesar de ser a mais explícita, essa não é a única relação que se pode fazer entre a obra de Wilder e o filme Mad Monster Party?. Wilder era bastante conhecido por seus diálogos inteligentes, carregados de duplos sentidos, e que poderiam ser interpretados em diferentes níveis.
Muitas dos diálogos de Mad Monster Party? são construídos de modo a darem aos espectadores a oportunidade de encontrarem nele um significado a mais, sem necessariamente fazer com quem não compreendeu esse sentido extra perca o desenrolar da trama.
As melhores falas, sem dúvida, são ditas pelo espirituoso e, por vezes, sarcástico Conde Drácula. Abaixo, segue uma dos diálogos travados pelo vampiro. Na seqüência em questão, ele tenta seduzir Francesca, logo após o jantar.
Drácula: Uma beijoca na orelha? Uma mordida no pescoço?
Francesca: Conde, eu estou com medo. Andou bebendo.
Drácula: Não o suficiente. Não a minha bebida favorita. Vamos, deixe-me beijá-la. Mulheres já morreram por um beijo meu.
Em um primeiro nível a conversa pode ser compreendida apenas como a tentativa de um bêbado em beijar a moça, contudo, considerando quem é o bêbado em questão, o Conde Drácula, um notório vampiro, as falas "uma mordida no pescoço", "Mulheres já morreram por um beijo meu" ou a afirmação de que ele não bebeu o suficiente a bebida favorita dele (sangue) ganham um segundo sentido.
Assim através dessa análise e de várias outras referências que poderiam ser mostradas aqui, comprovamos que Mad Monster Party? se configura como um entretenimento inteligente.
Referências:
ANDRADE A. L. Entretenimento inteligente: o cinema de Billy Wilder. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004. 291 p.
FESTA do Monstro Maluco
(MAD Monster Party?, EUA, 1967)
Direção: Jules Bass
Produção: Joseph E. Levine, Arthur Rankin Jr. e Larry Roemer.
Roteiro: Len Korobkin, Harvey Kurtzman e Arthur Rankin Jr.
Interpretes (vozes): Boris Karloff; Allen Swift; Gale Garnett; Phyllis Diller; Ethel Ennis e outros.
Works Filmes, DVD (94 min)
Mad Monsters and Parties. Retrojunk. Sobre Mad Monster Party e sua continuação Mad, Mad Monsters. Disponível em http://www.retrojunk.com/details_articles/694/
A Festa do Monstro Maluco. Boca do Inferno, sem data. Disponível em http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/madmonster.html
A Festa do Monstro Maluco. Casa do Horror, 10 jan 2006. Disponível em http://www.casadohorror.t5.com.br/catalogo/a_festa_do_monstro_maluco_frame.htm
Mad Monster Party? Internal Movie Database, sem data. Disponível em http://www.imdb.com/title/tt0061931/
Mad Monster Party? Wikipedia, sem data. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Mad_Monster_Party
Nostalgia: A Festa do Monstro Maluco em DVD. Universo HQ, 02 mai 2006. Disponível em http://www.universohq.com/quadrinhos/2006/n02052006_03.cfm
[1] Existe uma versão cinematográfica dessa história chamada de Island of Lost Souls ( EUA, 1933) com Charles Laughton e Bela Lugosi.
[2] Existe uma versão cinematográfica de 1925, estrelada por Lon Chaney Sr.