terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Seguindo a trilha do assassino



Em 2004, a Panini Comics prometeu republicar no Brasil aquele que ainda é considerado por muitos como um dos melhores mangás de samurai de todos os tempos: Lobo Solitário (Kozure Okami no original). 

Três anos depois, o samurai renegado Ito Ogami e de seu filho, Daigoro, finalizaram, no Brasil, a sua longa viagem em busca de vingança contra o clã Yagyu. 

Criado na década de 70 por Kazuo Koike (roteiros) e Goseki Kojima (desenhos), esse popular e clássico mangá foi um dos primeiros do gênero (excluindo o trabalho do genial Osamu Tesuka) a introduzir os quadrinhos japoneses no mundo ocidental. A saga do Lobo Solitário e seu filhote influenciou uma geração de artistas tanto na Terra do Sol Nascente quanto no lado de cá do planeta. 

Publicada pela revista semanal Kodansha, esta série teve 114 capítulos em 14 edições (no Brasil foram 28 edições lançadas pela Panini). Além dos quadrinhos, Lobo Solitário teve, no Japão, diversas adaptações para o cinema e tv durante os anos 70 e 80. Também foi produzido um anime cujos episódios chegaram a ser exibidos no Brasil por um curto período no SBT durante os anos 80. 

Em linhas gerais, a trama da série é a seguinte: 

Na época do Japão feudal, existiam vários senhores feudais que estavam sob as ordens do Shogun, o mais poderoso e importante dentre os senhores feudais. Embora o Imperador ainda fosse respeitado como figura de poder e ascendência divina, era o Shogun quem efetivamente governava o país. Para manter seu domínio, o Shogun designou três famílias para ocuparem os cargos de ninjas, assassinos e executores. 
Clique para ver versão ampliada
A família Kurokawa ficou com o cargo de ninja, devido à sua própria tradição. Os ninjas eram responsáveis por observar todos os feudos no Japão, incluindo os senhores feudais. Qualquer atitude suspeita era informada ao Shogun. Se algum dos subordinados tramasse se opor, se rebelar ou se voltar contra o Shogun, o clã dos assassinos (título dado à família Yagyu) era acionado e o traidor era prontamente executado. Em princípio, a família Yagyu também mantinha o título de executores. Os executores eram responsáveis por auxiliar os nobres senhores feudais que se arrependessem de sua traição ao Shogun em um ritual chamado harakiri, ou usando um nome mais respeitável, seppuku. O seppuku é um ritual onde a pessoa pega uma lâmina e começa a cortar o ventre, eviscerando-se. Para "aliviar" o senhor feudal ou qualquer outro que fizesse o ritual, o Executor ceifava a cabeça do condenando, deixando uma aba de pele do pescoço sem ser cortada para que a cabeça não rolasse no chão. 

Depois de anos mantendo o título de executores, os Yagyu foram substituídos pelos Ogami na tarefa por decisão do Shogun, que realizou um teste envolvendo o samurai Ito Ogami e o mais jovem dos Yagyu, Retsudo. Inconformados com a perda do título, os Yagyu tramaram contra Ito e sua família, forjando provas que levaram o Shogun a crer que Ogami havia lhe traído. Os Yagyu também assassinaram a esposa de Ito, que, mesmo agonizando, deu a luz a Daigoro Ogami. 

Assim, Ito parte, juntamente com seu filho, em uma jornada de ódio e violência para limpar seu nome e vingar a morte de sua esposa e de sua família, percorrendo a espinhosa trilha do assassino. 

Frank Miller foi um dos artistas dos quadrinhos americanos que mais se rendeu ao genial trabalho de Koike e Kojima. Miller não apenas incorporou a linguagem de mangá aos seus mais famosos trabalhos como Cavaleiros das Trevas, Ronin e Demolidor, como foi o responsável pelas capas e textos de introdução de cada edição norte-americana de Lobo Solitário, que saiu nos Estados Unidos pela First Comics durante a década de 80. 

Outra obra de destaque inspirada pelo mangá é a fantástica graphic novel Estrada para Perdição, publicada em 1998 pela DC Comics, através do selo Paradox Press. (Saibam mais sobre a série, clicando aqui

Também Genndy Tartakovsky, criador do Laboratório de Dexter, faz uma homenagem a esse mangá em dois episódios de uma das melhores séries animadas da atualidade e ganhadora do Emmy: Samurai Jack. Em dos episódios da série (episódio XIX), Jack encontra as ruínas de sua terra natal e relembra sua infância. Em uma das cenas, temos a participação de Ogami e Daigoro, numa sensacional cena de luta. Já no episódio LII é o próprio samurai Jack que faz as vezes de Ito Ogami, viajando com um bebê que salvara de um bando de ogros, tal qual o Lobo Solitário faz com seu "filhote" Daigoro. 



Lobo Solitário chegou a ser publicado, de forma bastante descontinuada, aqui no Brasil, primeiro pela Cedibra em 89 (9 edições) e depois pela Nova Sampa em 92 (12 edições). Surgiram diversas notas na internet de que o mangá ganharia uma versão cinematográfica hollywoodiana e seria dirigida por Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho). O filme seria produzido pela Paramount Pictures e a Mutual Film Company. Mas ao contrário dos ardentes desejos dos fãs da série, o filme não se passaria no Japão Feudal, e sim nos dias de hoje. Nenhuma novidade sobre a produção foi divulgada depois desses rumores iniciais. 

De qualquer forma, tornar-se ou não um filme hollywoodiano não faz tanta diferença assim para esta série, pois, mesmo depois de cerca de trinta anos de seu lançamento, Lobo Solitário ainda é lembrada e reverenciada por suas infinitas e sólidas qualidades artísticas e narrativas. E é exatamente por todos esses motivos que vê-la, finalmente na íntegra, graças aos esforços da Panini, foi muito mais que um presente para os fãs de quadrinhos brasileiros. Devemos mesmo é nos sentir honrados pela oportunidade de lermos a épica saga e obra-prima de Kazuo Koike e Goseki Kojima. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Fanart Chihiro - O processo

Fotos da fanart de A Viagem de Chihiro que eu fiz.   Pintura em óleo sobre papel canson 300 g.

Artes originais do Ghibli usadas de referência




Minha pintura
















A versão final

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

À Sombra do Samurai




Alguns anos atrás estreou na Globo, timidamente e sem nenhum estardalhaço, um anime chamado Samurai X. Embora tenha sofrido horrores nas mãos da emissora, com cortes inexplicáveis e episódios perdidos, Samurai X conquistou uma legião de fãs e se tornou um cult. Posteriormente o CartoonNetwork trouxe o anime de volta. Em 2001, junto com Sakura Card Captors, foi um dos primeiros títulos a ser lançado pela JBC, dando o pontapé para o boom de mangás que vieram posteriormente.

Felizmente,  a editora JBC está dando aos velhos e novos fãs de Kenshin Himura a oportunidade de voltar ou começar a acompanhar suas histórias através do relançamento do mangá.  

Samurai X, ou Rurouni Kenshin, como é conhecido em sua terra natal (algo como "O Vagabundo Kenshin") e que vai ser o título da republicação, conta a história de Kenshin Himura, um andarilho, e se passa nos primeiros anos da Era Meiji, quando o Japão se abriu ao mundo ocidental. Apesar da aparência inofensiva, Kenshin é na realidade o famoso Hitokiri Battousai, o Retalhador, que lutara na guerra civil que estabeleceu a Era Meiji e era conhecido tanto pela habilidade com a espada quanto pela frieza e crueldade com que matava os inimigos. Tentando expiar seus pecados, jurou nunca mais matar e passou a vagar pelo país, ajudando as pessoas, até que conheceu Kaoru Kamiya e passou a morar em seu dojo. A eles se juntaram posteriormente o garoto Yahiko Myoujin, filho de ex-samurais, Sanosuke Sagara, um ex-lutador de aluguel, e Megumi Takani, uma médica que se viu envolvida com o tráfico de ópio. 

Lançado originalmente na revista Shukan Shonen Jump em 1997, Rurouni Kenshin foi o primeiro trabalho autoral de Nobohiro Watsuki em série contínua. Antes ele já havia trabalhado como assistente de Takeshi Obata (Arabian Lamp Lamp) e Youichi Takahashi (Captain Tsubasa/Super Campeões), e feito também algumas histórias curtas, inclusive as que deram origem à saga de Kenshin Himura (e foram publicadas aqui no Brasil na própria revista do herói).

Com uma arte primorosa, que sabe combinar os traços estilizados típicos do mangá com composições que ora beiram o realismo ora beiram o fantástico, além de uma arte finalização que utiliza com eficiência a luz e a sombra, Samurai X acabou por  se tornar um clássico no universo dos mangás. 

Se só o trabalho de Watsuki como desenhista não for o suficiente para conceder esse título a Rurouni Kenshin, a história do mangá o faz. O enredo apresenta elementos já vistos anteriormente em muitas histórias: um herói com um passado obscuro, que é amado por uma linda e jovem donzela, mas que acredita precisar de redenção antes de merecer ser feliz. E para tal intento, conta com o amor e a dedicação de seus amigos mais leais. Apesar disso, a forma como os personagens são caracterizados e o modo como se inter-relacionam, numa mistura equilibrada de tragédia e humor, tornam a história carismática e emocionante. 

Kenshin pode ser tanto doce e atrapalhado quanto sombrio e amargurado, assim como Kaoru é a mais romântica e inocente das donzelas, sendo ao mesmo tempo a mais corajosa e audaciosa de todas. E o mesmo pode ser dito de todos os outros personagens, que se apresentam como uma miríade de qualidades, emoções e defeitos, tão complexos e sutis como qualquer pessoa real. 

A pesquisa e a reconstituição histórica do período em que se passa a história é um caso à parte, sendo comprovada pelos comentários de Watsuki, nos quais percebemos todo o seu empenho na construção de saga de battousai. Seus comentários, ou sobre a composição das personagens ou recados para os leitores, e que foram incluídos na versão brasileira (embora sejam originalmente dirigidos aos leitores japoneses), nos tornam mais próximos da obra, como se aquilo fosse mesmo direcionado a nós e estivéssemos participando da gestação da história. Embora seja uma ilusão, é uma boa ilusão, pois nos dá uma sensação de afetuosa familiaridade com o mangá que temos em mãos. 

Em relação ao anime, vale a pena conferir as partes realmente inspiradas pelo mangá, especialmente a saga da Juppongatana, em que Kenshin e companhia enfrentam Makoto Shishio. O OVA que trata do passado do battousai e seu relacionamento com a falecida esposa, Tomoe, também é primoroso, e têm um clima mais sombrio e taciturno. Entretanto, o segundo OVA, que conta a história dos personagens anos depois da série original, divide os fãs entre aqueles que amam  e os que odeiam.

Se tudo isso não bastasse, a série animada também possui uma das melhores trilhas sonoras de animes que eu já escutei. Recomendável para quem curte J-Pop e J-Rock. 

O sucesso de Rurouni Kenshin é tamanho que o mangá, mesmo depois de 18 anos do início da publicação original, ganhou uma versão em filme live action, que estreou no Japão no dia 25 de agosto deste ano. E que não tem a mínima previsão de estrear no Brasil. Com sorte, talvez o consigamos em DVD ou Blu Ray.

Mais que uma história sobre um determinado período histórico do Japão, Samurai X se trata de uma história sobre amor e amizade, redenção e lealdade. Fala sobre como é possível, apesar de todas as mudanças que ocorrem no mundo, escolher fazer o certo, ajudar aqueles que necessitam da melhor maneira que pudermos. É essencialmente sobre a possibilidade de iniciarmos vida nova e encontrarmos a felicidade. E isso não se restringe a um país ou a uma época específica: é universal e atemporal.




sábado, 28 de julho de 2012

Mulher Gato em Teto de Zinco Quente (atualizado)

Quem é a Mulher Gato, afinal?

A personagem surgiu em 1940, na revista Batman # 1 (curiosamente, o Coringa também apareceu nessa edição), com o nome original "The Cat", e não usava nenhum uniforme especial. Desde as primeiras histórias, The Cat   já era uma ladra e Batman sempre demonstrou certa complacência em relação à felina: após recuperar os frutos do roubo de The Cat, Batman simplesmente deixa a mocinha escapar. Seria amor bandido à primeira vista?

Durante um bom tempo, Bob Kane (criador do Batman e de grande parte das personagens da série, juntamente com Bill Finger) tentou encontrar o visual (usando a própria namorada como modelo) e o nome ideais para a personagem. Depois de algumas aparições como The Cat, ela se transformou em Selina Kyle, uma dona de lojas de animais que simplesmente decidiu se tornar ladra e mudou o nome para Mulher Gato (Catwoman). Vestida com um esvoaçante vestido de seda e portando um chicote, ela se tornou uma das personagens mais sexies da história dos quadrinhos.



A maioria de seus crimes era relacionada com gatos e Selina nunca foi nada mais que uma ladra. Não era necessariamente uma personagem "má", mas sim uma aventureira que sentia um prazer especial em burlar a lei e trazer dor de cabeça para o Morcegão.

Desde o início também ficou subentendida certa tensão sexual e um atrativo romântico entre a Mulher Gato e o Batman. Talvez, na cabeça dos criadores da personagem, nada melhor para pegar um rato voador do que um gato, ou melhor, uma gata.

Com a onda de moralização que varreu os quadrinhos durante os anos 50, a personagem acabou ficando um pouco para escanteio, até que, graças à batmania deflagrada pela série de TV estrelada por Adam West (Batman) e Burt Ward (Robin), a Mulher Gato voltou ao auge.



Na série, ela era vivida primeiramente pela atriz Julie Newmar. Na imaginação da maioria dos fãs, nunca houve nem haverá uma Mulher Gato como Newmar. Sexy e divertida, a versão da Mulher Gato vivida por Newmar não tinha a dualidade moral da personagem dos quadrinhos. Ela era uma vilã, mas ainda assim sedutora e carismática. Um femme fatale vestida em látex e com orelhas de gato. Nem o Batman poderia resistir ao seu charme. O sucesso da personagem foi tanto que, nos quadrinhos, a Mulher Gato passou a ser retratada fisicamente de forma semelhante à personagem da série.

O sucesso do seriado do Batman também foi tamanho que decidiram fazer um longa metragem com as personagens. Como a série, o longa era nada mais nada menos que uma sátira exagerada ao universo dos Comics. No filme, um grupo de vilões, formado pelo Coringa (Cesar Romero), Charada (Frank Gorshin), Pingüim (Burgess Meredith) e Mulher Gato, decide atacar os líderes mundiais, cabendo à dupla dinâmica impedir esse vil intento. Na época, Julie Newmar não estava disponível, pois estava filmando O Ouro de MacKenna (famoso pela cena em que ela aparece "nua"), e foi substituída quase à altura por Lee Meriwether, uma ex-Miss América.



Na terceira temporada da série, saiu Julie Newmar e entrou a cantora Eartha Kitt em seu lugar. A explicação oficial foi a de que Julie Newmar estava com a agenda cheia no período. No entanto, segundo as más línguas, tudo não passou de uma manobra para não deslocar as atenções do público para a Batgirl como possível interesse romântico do Batman. Isso porque a Mulher Gato de Eartha Kitt é muito mais cômica e exagerada que a protagonizada por Newmar.



Pouco tempo depois, também foi lançado um desenho animado estrelado por Batman e Robin. Nele, o uniforme da Mulher Gato, apesar de verde, era inspirado no do seriado. Ela era uma vilã propriamente dita, cercada de capangas e dirigia um Gatomóvel e um Gatocóptero - todos com enormes orelhas de gato.

Nos quadrinhos, a personagem continuou sua vidinha básica de ladra charmosa... Com algumas ressalvas. Na década de 70, no universo conhecido como Terra 2 (uma cópia da Terra oficial da DC, no qual os heróis eram todos mais velhos), Selina Kyle abandonou o mundo do crime e se casou com Bruce Wayne. Os dois tiveram uma filha, Helena Wayne. Selina foi morta por um de seus ex-parceiros de crime, o que levou Helena a se tornar a heroína Caçadora. Tal história foi aproveitada anos depois na série de TV Birds of Prey (SBT e Warner), estrelada pelas personagens Caçadora (Helena Kyle), Oráculo (Bárbara Gordon) e Canário Negro (Dinah). Infelizmente, o seriado foi cancelado logo na primeira temporada.

Mas eis que chegamos ao ano de 1985 e ocorre na DC Comics um mega evento chamado Crise nas Infinitas Terras. Para quem não sabe, esta saga escrita por Marv Wolfman e desenhada por George Perez teve como função arrumar o balaio de gatos que se tornou a cronologia da DC com suas centenas de Terras paralelas. As Terras foram fundidas numa só, e muitos personagens morreram ou foram alterados.

A maioria das personagens clássicas da DC passou por reformulações em suas origens, apesar de seus aspectos essenciais terem sido mantidos. Foi assim com o Superman de John Byrne, a Mulher Maravilha de George Perez e o Batman de Frank Miller.

Miller, que já havia escrito o aclamado Batman Cavaleiro das Trevas, escreve Batman Ano Um em parceira com David Mazzucchelli (desenhos, antigo parceiro de Miller em Demolidor) e Richard Lewis (cores). Batman Ano Um, como o próprio nome diz, narra os infortúnios do Cavaleiro das Trevas no seu primeiro ano de combate ao crime. Selina então é retratada como uma sexy prostituta que decide abandonar o ofício para se tornar a ladra mascarada Mulher Gato.

Logo em seguida foi lançado um especial intitulado Mulher Gato, que reconta a origem da personagem. Inicialmente, Frank Miller escreveria o especial, mas após um desentendimento do autor com a editora, Mulher Gato passou para as mãos de Mindy Newell.


Newell aproveita toda a caracterização criada por Miller em Batman Ano Um e elabora uma história paralela estrelada por Selina Kyle, aqui uma prostituta de rua violentamente abusada por seu cafetão. Após passar um tempo internada em um hospital, um policial a encaminha para o herói aposentado Pantera Negra. Ele ensina Selina a lutar e a se defender. Depois disso, ela decide abandonar a vida nas ruas, tornando-se a ladra conhecida como Mulher Gato.

Certos aspectos dessa versão da heroína foram aproveitados por Jeph Loeb nas suas séries O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria que, se observadas com atenção, podem ser consideradas quase como continuações de Batman Ano Um.

Nos anos que se seguiram, o passado duvidoso de Selina Kyle como prostituta foi deixado um pouco de lado, praticamente esquecido. Até tentaram recontar sua origem após o evento Zero Hora (quase uma continuação da Crise), praticamente excluindo os eventos referentes à vida de Selina como prostituta.

Em 1992, Tim Burton dirige Batman - O Retorno, segundo filme da franquia do Cavaleiro das Trevas no cinema. Aqui, Selina (vivida por Michelle Pfeiffer, ao lado na foto) era secretária de Max Schreck (Christopher Walken). Após descobrir uma de suas falcatruas, ela foi assassinada por ele. Misteriosamente, é revivida por vários gatos, tornando-se a sexy vilã Mulher Gato. Aliada ao Pingüim (Danny DeVito), ela coloca em ação um plano para prejudicar Gotham City e Schreck, tendo o intento de se vingar do seu ex-chefe. Como nos quadrinhos, existe uma forte atração entre a Mulher Gato e o Batman (Michael Keaton), assim como entre seus alter-egos Selina Kyle e Bruce Wayne. A atuação de Michelle Pfeiffer é marcante e torna a Mulher Gato tão sexy, dual e carismática quanto à versão protagonizada por Newmar na série de TV. Ou talvez muito mais.



A versão Mulher Gato de Pfeiffer impressionou tanto que a personagem foi retratada loira no excelente desenho Batman The Animated Series (de Paul Dini e Bruce Timm), tal como a atriz, ao invés de morena, como nos quadrinhos. Somente depois de algumas temporadas é que a Mulher Gato passou a ter seu cabelo moreno clássico de volta. No desenho, a identidade de Selina como Mulher Gato é de conhecimento público e ela inclusive não é tão "vilã" como em suas outras versões, sendo até retratada como uma ativista de Direitos dos Animais. Na versão animada, ela era dublada por Adrienne Barbeau.


Enquanto isso, nos quadrinhos, a Mulher Gato começou a ganhar mais espaço dentro do universo do Morcego e passou a protagonizar sua própria revista. Escrita por Jo Duffy e desenhada por Jim Balent, a versão da Mulher Gato mostrada nessa série era muito mais aventuresca e bem humorada que a sombria versão recriada por Miller.

Pouco tempo depois, a série foi reformulada. Muitas das pontas soltas deixadas para trás, inclusive o passado de Selina Kyle como prostituta, foram retomadas e novamente explicadas. O uniforme da personagem mudou outra vez e a história enfatiza mais numa espécie de guerrilha urbana.

Loeb aproveitou bem essa "nova" Mulher Gato na sua mega saga Silêncio, publicada no Brasil pela Panini e desenhada por Jim Lee. Nela, Loeb tentou estreitar os laços entre a Mulher Gato e o Homem Morcego, tornando o romance entre os dois ainda mais explícito.



Houve também o fatídico filme da Mulher Gato, estrelado por Halle Berry. Nele, Patience Phillips é uma artista plástica frustrada que trabalha como designer em uma companhia de cosméticos. Certo dia, ela descobre que o novo produto a ser lançado pela empresa provoca, com o uso contínuo, a deformação do rosto de suas usuárias. Assim, ela é assassinada por seus patrões. Patience morre e é ressuscitada por vários gatos, meio que num ritual felino. Poderes semelhantes aos de um gato lhe são transmitidos por uma felina especial, mensageira da deusa dos gatos Bast, que lembra bastante a cena do filme do Burton. A partir daí, Patience se torna a Mulher Gato, que não é necessariamente uma heroína. E tenta desvendar o mistério envolvendo sua morte. O filme se mostrou como uma bomba completa, com inúmeros equívocos reunidos. Desde roteiro, passando por figurino, direção, edição, atuações, trilha sonora. A história é mal escrita, cheia de furos e explicações completamente forçadas.  Não por acaso, foi o ganhador do Framboesa de Ouro de 2004, prêmio concedido aos piores filme do ano.

Em 2004 também estreou a série The Batman, cujo principal idealizador foi Jeff Matsuda, responsável pelo consagrado desenho As aventuras de Jackie Chan. A série durou até 2008 com um total de 65 episódios. Seu propósito era alcançar o público infantil, e, para isso mostrava um Bruce Wayne mais jovem, de aproximadamente 20 anos, em seu começo de carreira. O clima é muito mais leve que das série anteriores, se aproximando muito mais do trabalho anterior de Matsuda que das animações anteriores do Morcego. O designer dos personagem foi muito criticado entre os fãs, especialmente o do Coringa.



Entretanto, apesar de bem mais morena que nas versões anteriores, a Mulher Gato passou incólume. Seu uniforme remetia aos quadrinhos, apesar das orelhas maiores que o usual. E sua caracterização era de uma aventureira que se divertia em burlar a lei.

Apesar das ressalvas do público, a série ganhou seis vezes o prêmio Daytime Emmy Awards.

Em 2008, foi lançada a série Batman: The Brave and  The Bold (Batman: O Bravos e Destemidos), também voltada para o público infantil. Baseada na clássica revista de mesmo nome, suas histórias remetiam às aventuras exageradas e, por vezes nonsense, que o herói vivia no fim dos anos 40 e nos anos 50, muitas vezes magistralmente desenhadas por Dick Sprang. Aliás, o traço do artista inspirou o design da série.  E a Mulher Gato, como a versão daquela época, encarna novamente a ladra de vestido esvoaçante e chicote.


Nos quadrinhos, depois da gravidez de Selina Kyle e nascimento de sua filha, nas histórias escritas por Ed Brubaker, Holly Robinson assumiu o manto da ladra felina.

Robinson surgiu em Batman Ano Um. Ela era uma jovem prostituta – aparentando ser menor de idade – que morava com Selina Kyle. Depois de vários problemas, Selina precisou deixar Holly com sua irmã, Maggie Kyle, uma freira.

Holly não se adaptou à vida no convento e acabou voltando para as ruas.

Em uma das versões da história, ela se casou com um milionário, sendo assassinada por ele, fazendo com que Selina buscasse vingança pela morte da amiga.

Ignorando esse fato – algo justificado, considerando-se os constantes reboots da cronologia da DC, Brubaker fez de Holly uma viciada que reencontra Selina em sua velha vizinhança, ganhando uma segunda chance.

Para explicar a ressurreição da moça, o autor se aproveitou de um dos mencionados reboots, o Zero Hora, criando uma história extra que explicou o retorno de Holly.



Durante um tempo, Holly teve um bom desempenho em sua vida de anti-heroína até ser injustamente acusada de assassinato e ter se tornado uma fugitiva.

Em 2004, a série da Mulher Gato ganhou o GLAAD Media Award, prêmio da
Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD), por mostrar Holly como lésbica de forma positiva e aberta.

Depois do relaunch realizado pela DC Comics, reiniciando sua cronologia através dos títulos conhecidos como os Novos 52, Selina Kyle se consolidou novamente como Mulher Gato, e protagonizou uma das cenas mais polêmicas desse recomeço, onde ela e Batman fazem sexo, ambos usando seus uniformes.



Agora é a vez de Anne Hathaway  assumir a personagem nos cinemas, em Dark Knight Rises, filme que fecha a série iniciada por  Christopher Nolan com Batman Begins em 2005.

Seu uniforme é claramente uma homenagem ao visual de Julie Newmar na série dos anos 60, adaptado para o universo pretensamente realista criado por Nolan.

Muitos fãs duvidavam da capacidade da atriz em conseguir encarnar a personagem. Depois da estreia do filme, público e crítica, em sua maioria, não poupam elogios à moça, e os mais entusiasmados, cogitam uma indicação ao Oscar pelo papel.


Só vendo o filme para ver conferir se esse alvoroço é justificável.

Contudo, é inegável que em quase todas as suas encarnações a Mulher Gato sempre fascinou seus fãs não apenas por seu jeito sexy e um pouco selvagem, mas pela sua força, carisma e dualidade moral. Enfim, uma personagem intrigante e sedutora, essencial na Mitologia do Homem Morcego.

Também publicado no site Terra Zero: http://www.terrazero.com.br/2012/08/mulher-gato-em-teto-de-zinco-quente/

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Exposição Diamond Mall

Este é site do Diamond Mall sobre a exposição, onde tem meu texto sobre quadrinhos, desde os primórdios até hoje em dia com a influência nos filmes, jogos e etc. Com ilustrações de vários artistas mineiros, como Brão, Guilherme Balbi, Julio Ferreira, Juliana Simões e o premiado Eduardo Damasceno.

http://www.diamondmall.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/07/pdf_HEROIS_site.pdf

Abaixo, fotos do evento.

















segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sobre o Espetacular Homem Aranha...

Participação minha, do quadrinista Vitor Cafaggi e da escritora Cleide Fernandes no jornal Estado de Minas sobre novo filme do Homem-Aranha.
Super-herói na BerlindaFãs especializados em quadrinhos se dividem em relação ao novo filme do Homem-Aranha. Só os atores Andrew Garfield e Emma Stone conseguem escapar da crítica rigorosa dos aficionados


Carolina Braga

Publicação: 09/07/2012 04:00



Ainda que os números da estreia de O espetacular Homem-Aranha sejam expressivos – lucro de US$ 140 milhões em seis dias –, o chamado reboot da trama de Peter Parker, dirigido por Marc Webb, não tem impactado tanto quanto a primeira trilogia do super-herói protagonizada por Tobey Maguire. Na verdade, o que marca a produção estrelada por Andrew Garfield e Emma Stone é o racha na opinião de fãs, principalmente aqueles especializados em quadrinhos.

“Achei mediano. O filme tem menos detalhes para atrair os fãs e mais para o grande público”, observa Ana Carolina Cunha, mestre em HQ pela Universidade Federal de Minas Gerais, funcionária e aluna da Casa dos Quadrinhos de Belo Horizonte. “Tentaram fazer uma história mais densa, pautada nos dramas psicológicos do personagem, mas não funcionou”, completa a bibliotecária Cleide Fernandes, também colaboradora da escola especializada mineira.

Como quase tudo o que envolve personagens do naipe de Homem-Aranha, as adaptações misturam tantos elementos dos quadrinhos que, de fato, nunca alcançam unanimidade. Se isso já se dava com a trilogia, agora a tendência se reforça com novos atores e a volta da trama às origens. “Gostei bastante. O filme tem estrutura de roteiro muito parecida com a do primeiro da série, além de elementos do segundo longa. Mas a grande vantagem é o elenco. Andrew está espetacular: ele é o Peter Parker. Emma também está bem, essa caracterização conta muito”, analisa o desenhista Vitor Cafaggi.

Há um ponto em comum nas opiniões de gente especializada em HQ: a caracterização de Emma Stone como Gwen Stacy. “Parece que a tiraram dos quadrinhos e levaram para a tela. O visual é muito parecido, até os figurinos”, surpreende-se Cafaggi.

Para o quadrinista, o Peter Parker de Andrew Garfield também é muito parecido com a caracterização dada pelo desenhista Steve Ditko, em 1962. “Ele era bem magrelinho, com o cabelo arrepiado, sobrancelha grossa. Na primeira trilogia, toda vez em que ele tirava a máscara eu me incomodava. No novo filme isso não ocorreu, pois o Andrew é muito parecido com o personagem”, diz Vitor.

Está aí uma diferença fundamental entre a HQ e o filme: na tela, a todo momento Peter Parker mostra sua identidade. “Isso me irritou, porque a questão do herói é justamente esconder quem é. Nesse filme, ele revela para todo mundo que é o Homem-Aranha. Isso esvazia um pouco”, critica Cleide Fernandes. “Esse recurso do cinema permite ao ator aparecer mais. Dizem que a máscara limita muito a visibilidade deles. Acho que a personalidade do novo Peter Parker também é mais fiel, ele não ficou tão bobão. Está mais destemido”, observa Caffagi. Eis outra controvérsia na guerra HQ versus cinema.

 “O Peter Parker é nerd, mas isso ficou falho. É mais um adolescente normal, incompreendido, que está aquém da imagem clássica do personagem”, afirma Ana Carolina Cunha. Para ela, mais grave que Peter Parker, a mancada de O espetacular Homem-Aranha é a caracterização do vilão Doutor Connors/ Lagarto. “Nos quadrinhos, ele só fica mau quando vira Lagarto. Essa dualidade não está clara no filme. Virou um personagem obcecado por ciência, por melhorar a espécie humana”, reclama a fã.

REPETECO Autor das tirinhas Puny Parker, inspiradas na infância do herói, Vitor Cafaggi é tão aficionado em Homem-Aranha que já viu o novo filme duas vezes – em 3D e na versão convencional. A tecnologia, um dos diferenciais do longa recém-lançado, não o empolgou. “Gostei mais do 2D. As cores ficaram mais vivas e dá para você entender os movimentos do Homem-Aranha”, compara Vitor.

Para Ana Carolina, o formato 3D não conseguiu agregar emoção à ação. “Achei as cenas fracas. Não dá empolgação vê-lo pulando de prédio em prédio. Não gostei dos momentos em que parecemos estar nos olhos dele. Tive a sensação de jogar videogame com o filme”, criticou ela.


CONFIRA
Pegando carona na estreia de O espetacular Homem-Aranha, ficará em cartaz, entre os dias 12 e 30, a exposição Heróis dos quadrinhos, parceria da Casa dos Quadrinhos com o Diamond Mall. Estarão à mostra esculturas e ilustrações de artistas mineiros em homenagem a seus heróis prediletos. O público que for ao shopping também poderá conferir revistas raras de colecionadores e o acervo da Casa dos Quadrinhos. Serão oferecidas oficinas gratuitas de quadrinhos para crianças de 7 a 12 anos. Informações: (31) 3330-8633. 


RESUMO DA OBRA


As tirinhas Puny Parker, sobre a infância de Peter Parker, projetaram a carreira do desenhista mineiro Vitor Cafaggi. “Fiz como brincadeira, um treino para os quadrinhos. Hoje, desenho para grandes publicações”, conta ele. Em 140 tiras, Vitor conta uma história inteira reunindo vários elementos das tramas originais desenhadas por Stan Lee, Steve Ditko e John Romita. O trabalho está disponível em www.punyparker.blogspot.com.
Fonte: Jornal Estado de Minas em 09/07/2012