sexta-feira, 8 de novembro de 2013

HQ - História de Amor

Esta é a minha primeira HQ publicada, feita em parceria com o desenhista Adriano Gomes.  Ela é baseada em um argumento feito com minha prima, Letícia Abreu, anos atrás... Uma história curtinha, singela e sem muitas ambições... sobre barreiras e encontros.

Espero que gostem e divulguem.



Para ver no site do ISSU: http://issuu.com/anacarolinacunha/docs/amorcor
Para baixar em pdf e ler com melhor resolução: http://mahouamaterasu.webs.com/amorcor.pdf


Tem uma versão impressa, que vou distribuir gratuitamente no FIQ 2013.  A sessão de autógrafos é no dia 13/11, às 17 horas no estande da Casa dos Quadrinhos.

Se não puder ir na sessão de autografos, vou deixar as restantes no estande do Pandemonio.



quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Sonho Perpétuo numa Noite Sem Fim



Nos idos dos anos 80, três escritores praticamente revolucionaram as histórias dos quadrinhos comerciais: o americano Frank Miller e os ingleses Alan Moore e Neil Gaiman. O primeiro, em seu trabalhos para a Marvel com o Demolidor e para a DC com o Batman, mostrou que quadrinhos de super-heróis podem ser sombrios, instigantes, polêmicos e inteligentes, indo muito além do típico conflito entre mocinhos e bandidos. Moore escreveu obras marcantes como V de Vingança, Miracleman, e talvez a melhor obra jamais escrita nos quadrinhos, Watchmen, que tinha como premissa básica a idéia de como seria o mundo real se os heróis realmente existissem. Mas foi com o Monstro do Pântano (para a DC Comics) que ele revitalizou o gênero do terror, criou uma das mais carismáticas personagens dos quadrinhos, John Constantine, e plantou as sementes para a linha de quadrinhos de adultos da DC.

De igual importância neste aspecto, está o trabalho de Neil Gaiman e seu Sandman. Graças a Moore e Gaiman, os grandes estúdios descobriram que adultos liam quadrinhos e gostavam de temas diferenciados e densos. Sem Sandman e o Monstro do Pântano, não teríamos sido presenteados com obras fenomenais como Hellblazer (estrelado por John Constantine), Livros da Magia, Preacher (do polêmico Garth Ennis), ou mais recentemente 100 Balas, de Brian Azarello e Eduardo Risso (atualmente um dos meus desenhistas preferidos), e o premiadíssimo Fables.

Para entender a importância dessa publicação, é preciso entender um pouco quem é Neil Gaiman e o que foi Sandman.

Neil Gaiman pode ser considerado um dos mais importantes escritores de fantasia da atualidade. Entretanto, ele começou sua carreira como jornalista. Um dos seus primeiros trabalhos foi Violent Cases, com um dos seus mais freqüentes parceiros de trabalho, o artista Dave Mckean. Graças a esse trabalho, ele e Mckean conseguiram uma vaga na DC e realizaram a minissérie Orquídea Negra, sobre uma obscura super-heroína da editora. A minissérie possibilitou que eles alcançassem vôos maiores, Gaiman passou a escrever a série mensal Sandman e McKean, além de ser o capista oficial de Sandman, também realizou o especial Asilo Arkhan, escrito por Grant Morisson e estrelado pelo Batman.

Além de Sandman, Gaiman também é o autor de outros quadrinhos, entre eles Livros da Magia (estrelado por um jovem mago de 12 anos, dono de uma coruja e que usa óculos, muito antes de Harry Potter aparecer), Miraclemen, Angela, algumas minisséries estreladas pelos Perpétuos, entre outras coisas. Para completar, Gaiman já escreveu livros de contos e poesias (Fumaças e Espelhos), séries de TV (Neverwhere), romances de fantasia (Deuses Americanos, Filhos de Anansi e Belas Maldições, O Oceano no fim do caminho), fábulas para adultos (Stardust), livros infantis (Coraline, Ogg e os Gigantes de Gelo, Lobos atrás das paredes) Ganhou diversos prêmios importantes, como o Eisner e o Nebula. Por sorte, a maioria do material do autor já foi publicado no Brasil por diversas editoras diferentes.

Já Sandman, considerada a maior obra de Gaiman para os quadrinhos, é uma das mais fascinantes histórias já publicadas pela DC Comics, ganhando fã fervorosos e entusiasmados ao redor de todo o mundo. Alternando momentos de pura fantasia e poesia com outros de um terror indescritível, Sandman ainda tinha o acréscimo de citar diversas mitologias, clássicos da literatura (em especial Shakespeare) e do cinema, trechos de músicas, tudo sem parecer enfadonha ou hermética.

A série conta a história de Lorde Morfeu, regente do Sonhar, e um dos sete Perpétuos. Os Perpétuos são seres que não são deuses nem humanos, nem mesmo anjos, são entidades místicas que existem desde que o primeiro ser consciente surgiu no Universo e permanecerão aqui até que o último ser consciente pereça. Mesmo que não reconheçamos, todos nós, inconscientemente, sabemos que esses irmãos existem. São eles: Destino (Destiny), Morte ou Desencarnação (Death), Sonho ou Devaneio (Dream), Destruição (Destruction), Desejo (Desire), Desespero (Despair) e Delírio (Delirium). Morfeu é um dos diversos nomes adotados pelo Sonho, assim como Sandman (Homem da Areia, mais conhecido no Brasil como João Pestana, responsável por jogar areia nos olhos das crianças para que elas durmam).

Na realidade, Sandman não é uma criação de Neil Gaiman, o personagem surgiu na década de 30 (a Era de Ouro dos quadrinhos) e era um detetive chamado Wesley Dodds, que usava uma arma de gás para colocar os bandidos para dormir. Outras versões de Sandman se seguiram a essa, mantendo apenas o nome em comum. Quando Neil assumiu a tarefa de relançar o título, apenas aproveitou o nome e recriou totalmente a personagem, seguindo por um caminho totalmente diferente dos seus antecessores. O publicação da história de Morfeu, inclusive, despertou interesse no Sandman da Era de Ouro, revisto como um herói que atuou nas décadas de 30 e 40, estrelando sua própria série: Sandman Teatro do Mistério. As versões intermediárias são quase completamente esquecidas - com exceção de Hector Hall, filho do Gavião Negro da Era de Ouro, que sofreu algumas pequenas adaptações posteriores, devido a Crise das Infinitas Terras, o primeiro grande reboot da DC. Ele foi importante dentro da trajetória do Sonho, mesmo que indiretamente.

A saga de Morfeu começa com o velho bruxo tentando capturar a Morte e por acidente capturando seu irmão mais novo. Isso aconteceu no começo do século passado. Durante anos, o Sandman esteve preso na mansão do feiticeiro, até que conseguiu se libertar. No primeiro arco de histórias, ele parte em busca de objetos mágicos que por direito lhe pertencem, e após reuni-los começa a árdua tarefa de reconstruir seu reino, que entrou em decadência durante sua ausência. Mas as coisas não param aí, aos poucos somos apresentados a importantes personagens, como os já citados irmãos de Morfeu, além de Caim e Abel, o Corvo Mathew, Eva, Titânia, Lúcifer, Shakeaspeare, Hob Glading, entre outros. Pequenos acontecimentos plantados no começo da série só mostraram sua importância muitas edições depois e fatos importantes do passado de Morfeu (como ser pai de Orfeu, aquele famoso cantor grego que desceu aos Infernos para buscar a esposa morta) são cruciais no desenrolar da história. De qualquer maneira, contar demais acabaria por estragar a graça de tudo, ainda mais que a Panini colocou a Edição Definitiva da série a nossa disposição no Brasil.

E se não bastasse a ousadia nos textos, Gaiman ainda teve a coragem de encerrar a série no auge do sucesso, com o brilhante argumento de que uma boa história tem começo, meio e fim, e um bom escritor sabe qual a hora de parar.

Mas milhares de fãs, não apenas de Sonho, assim como das outras minisséries estreladas pelos Perpétuos, viram-se órfãos. E para saciar sua sede de novidades e sua saudade, vários especiais estrelados pelos coadjuvantes do Sonhar (Merv Pumpkinhead e Bruxaria, por exemplo), além de séries mensais derivadas (Lúcifer e a já mencionada Sandman - Teatro do Mistério, estrelada por Wesley Dodds) foram lançadas no decorrer dos anos.

Em 1999, para comemorar os dez anos de publicação de Sandman, Gaiman retornou à personagem escrevendo Dream Hunters, publicado aqui pela Conrad, que reconta uma bela lenda japonesa sobre o amor de um monge e uma raposa no universo do regente do Sonhar.

Mais uma vez, agora para comemorar os dez anos da criação da linha Vertigo, a DC convidou novamente Neil Gaiman. Voltando às origens, ele escreveu Endless Nights, aqui  chamado de Noites Sem Fim, mas que pode ser traduzido duplamente, como "Noites dos Perpétuos" ou "Noites Perpétuas". A obra conta com roteiros de Gaiman e ilustrações de vários artistas diferentes, cada um enfocando um membro da família dos Sem-Fim. Quando publicada nos Estados Unidos foi campeã de vendas e teve igual êxito no Brasil ao sair pela Editora Conrad .

O Sandman (Morfeu) ficou a cargo do espanhol Miguelanxo Prado, e trata de uma história de amor passado no princípio dos tempos. co-estrelada pelo deus kriptoniano Rao (aquele da antiga exclamação do Super-Homem: "Grande Rao"), Lady Killalla, e com uma participação especial de Desejo. Desespero estrela 15 Portraits of Despair ("15 Retratos de Desespero"), ilustrada por Barron Storey. A história da Morte se passa em Veneza, numa noite que ocorreu há 200 anos, mas que dura toda a eternidade. P. Craig Russell, que já trabalhou com Gaiman em Sandman, é o responsável pelos desenhos. A história de Destruição foi feita por Glen Farby (capista de Preacher) e é mais ou menos sobre uma escavação arqueológica ou o fim do mundo ou as duas coisas. Bill Sienkiewicz (Elektra Assassina) foi o responsável pela história de Delírio, que tem as participações de Daniel (o atual Sandman) e Barnabás, o cão de estimação e guardião da caçula do Perpétuos. A história sobre Desejo  foi desenhada por Milo Manara, algo bem condizente com a personagem, já que Manara é famoso por seu quadrinhos eróticos. E para finalizar, há uma história sobre o mais velho dos Sem-Fim, Destino, ilustrada por Frank Quitely (New X-Men), descrita por Gaiman como "meditativa".

Essa seria, aparentemente, a obra definitiva de Gaiman sobre os Perpétuos e Sandman, mas eis que foi anunciado a publicação de The Sandman - Overture, minissérie em seis partes, inicialmente chamada de Sandman Zero. Em comemoração aos 25 anos do série original, ela trará um prequel, mostrando o que Morfeu estava fazendo antes de ser capturado no lugar de sua irmã.

O desenhista é o competente J.H. Williams III, do excelente Promethea, realizado ao lado de Alan Moore. A data de lançamento prevista é 30 de outubro.

A publicação é esperada com certa apreensão, pois, apesar da oportunidade do retorno de um personagem tão querido e emblemático, Neil Gaiman, mesmo tendo se consolidado com excelentes romances e contos, nos últimos tempo, vem apresentando apenas um trabalho mediano quando se aventura novamente nos quadrinhos, como no caso de "O que aconteceu com o Cavaleiro das Trevas?", a última história do Batman antes do reboot dos Novos 52, que possui uma excelente premissa, envolta em metalinguagem e ideias de arquétipos, mas um desenvolvimento raso diante do potencial da história.

Enfim, hoje, 30 de outubro,  é o dia para confirmarmos se Gaiman recuperou a mão boa para os quadrinhos e vai nos brindar com uma história digna de sua maior obra prima.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Harry Potter e seu Irmão mais velho


Ele é um garoto inglês, pré-adolescente na faixa dos onze, doze anos; tem cabelos escuros, usa óculos, tem uma coruja de estimação e está destinado a ser o maior mago de todos os tempos. Sobre quem estamos falando? Se você respondeu Harry Potter, está absolutamente certo e ao mesmo tempo completamente errado, pois tais características também se aplicam a outro menino, Timothy Hunter.

Se você não sabe quem é Harry Potter, provavelmente esteve fora do planeta Terra nos últimos anos. Criado por Joanne K. Rowling, a série de livros estrelada por Harry Potter dá uma roupagem moderna às antigas histórias de magia e feitiçaria. Publicado a partir de 1997, Harry Potter teve um começo tímido até se transformar em febre mundial, transformando sua autora de uma desempregada sem um tostão no bolso na segunda mulher mais rica da Inglaterra. Dos cinco livros publicados (de um total de sete pretendidos) a uma série cinematográfica iniciada em 2001, passando como de praxe por produtos como cadernos, blusas, mochilas, doces e afins, a pottermania varreu o mundo.

Mas se ainda assim você não sabe quem é Harry Potter (ou esteve em Alpha Centauri nos últimos anos), lá vai um breve resumo da história do bruxo adolescente:


Harry Potter é um jovem mago que teve os pais assassinados pelo maligno bruxo Voldemort (ou Aquele-que-não-deve-ser-nomeado), sendo que apenas Harry, na ocasião um bebê, escapou do ataque, tendo a testa marcada por uma cicatriz em forma de raio. Criado pelos tios trouxas (pessoas que não possuem magia), Harry só foi descobrir que era bruxo aos 11 anos quando recebeu uma carta para se matricular na escola de bruxaria Hogwarts. Lá ele se torna amigo de Ron Weasley (aprendiz de bruxos, filho de bruxos) e Hermione Granger (aprendiz de bruxa, filha de trouxas). Também entra em contado com o guarda-chaves da escola, um meio gigante chamado Hagrid, com Albus Dumbledore, diretor da escola e considerado um dos maiores magos da atualidade, e com a professora Minerva. Eles se tornam uma espécie de protetores, tutores e conselheiros de Harry. Com o passar do tempo, Voldemort tenta recuperar seu poder e sua forma física, destruídos ao tentar matar Harry, enquanto ainda tenta eliminar o bruxinho. A cada novo embate, Harry torna-se mais forte, mais consciente de suas capacidades e menos dependente de seus protetores. 

Enquanto por um lado Potter é tão conhecido, por outro muitos podem perguntar: quem é Tim Hunter?


No começo dos anos 90, o escritor Neil Gaiman (Sandman, Coraline, Deuses Americanos) escreveu uma minissérie em quadrinhos sobre um jovem mago chamada Livros da Magia.



Na história concebida por Gaiman. Tim Hunter é um garoto inglês comum, de doze anos, que vive com o pai e é supostamente órfão de mãe. Em um belo dia, Tim é visitado por quatro homens meio estranhos, ligados ao mundo da magia: John Constantine (criado por Alan Moore, na série Monstro do Pântano, e bastante conhecido por sua série Hellblazer, que está sendo adaptada para o cinema), Doutor Oculto, Vingador Fantasma e Mister Io, conhecidos como A Brigada dos Encapotados. Graças a esses misteriosos senhores, Timothy descobre que tem o potencial de tornar o maior mago de todos os tempos, tanto para o bem quanto para o mal. A missão dos encapotados é mostrar para o garoto todos os mundos nos quais a magia está presente e quais aspectos ela pode assumir. 

A minissérie de quatro partes Livros da Magia, desenhada por John Bolton, Scott Hampton, Charles Vess e Paul Johnson e publicada originalmente em 1991, saiu no Brasil pela Editora Abril, depois relançada há pouco tempo pela Ópera 
Gráfica. A minissérie fez sucesso e acabou por se tornar um título mensal escrito por John Ney Rieber, Peter Snejber e Peter Gross, chegando a alcançar o seu 75º número tratando basicamente da vida de Tim tanto com seus problemas de adolescente como aqueles relacionados à magia. Alguns números foram publicados aqui no Brasil pela editora Metal Pesado. Também foram lançados nos Estados Unidos dois novos trabalhos sobre Tim Hunter: um foi a minissérie The Names of Magic, interligando a antiga e nova série do bruxo, Hunter: The Age of Magic; o outro foi uma série, com Hunter na faixa dos vinte anos, estudando magia na White School. Mas, Hunter: The Age of Magic também foi cancelada após algumas edições. 

Alguns fãs mais exaltados de Gaiman e dos quadrinhos de Hunter torcem o nariz quando o assunto é Harry Potter, isso porque a quantidade de similaridades entre Harry e Timothy é tanta, além das descritas acima, que muita gente suspeita de um plágio por parte de Rowling. Por exemplo, além das semelhanças físicas entre as personagens, das duas corujas (Edwiges, a de Harry, e Io-io, a do Tim), ambos tinham uma origem secreta que não conheciam: Harry descobre ser filho de bruxos, enquanto Tim descobre que possui pais em Faire (o Reino das Fadas), Tamlin e Titânia.


Até mesmo foi dito, em vários sites e blogs, que Timothy Hunter era um personagem criado nos anos 80 pela renomada escritora inglesa Diana Wynne Jones na sua série mais famosa, Os Mundos de Crestomanci (cujos direitos já foram comprados para o cinema pela Disney). Wynne Jones foi aluna de Tolkien, criador da fantástica série O Senhor dos Anéis. Por sua vez, ela própria foi professora de J.K. Rowling, criadora de Harry Potter. Com dezenas de livros publicados na Inglaterra e em outros países, Diane W. Jones é uma autora altamente respeitada em seu país de origem e um sucesso de vendas em quase todos os lugares onde foi publicada. Os Mundos de Crestomanci - publicado no Brasil pela Geração Editorial - apresentam a um mundo onde a magia é algo natural e comum, e exatamente por isso é necessária a existência de um mago extremamente poderoso para controlar essa enorme fonte de poder mágico e não deixar que as pessoas sem poderes sejam abusadas por aquelas que os possuem. Este mago é o Crestomanci que dá nome à série. 

Apesar de o mundo criado por Jones estar repleto de magia, a bruxaria é absolutamente proibida. Bruxos são mortos por aqueles que odeiam a prática de bruxaria, e seus filhos são perseguidos apenas por serem filhos de bruxos. No Internato de Larwood, uma escola para órfãos de bruxos, uma confusão se arma quando um bilhete anônimo acusa uma das crianças de ser um bruxo. Supostamente uma dessas crianças seria Tim Hunter e teria surgido no volume A Semana dos Bruxos

Assim é a internet, a terra da informação e da desinformação. Durante muito tempo, eu mesma acreditei que esta era uma informação verdadeira, mas, acabei por descobrir que não existe, de fato, um personagem nomeado Tim Hunter no livro supramencionado. 

Na realidade, o que parece ter ocorrido foi tanto uma similaridade das idéias de Rowling com as obras de Gaiman e Wynne Jone. E que, aparentemente, Gaiman, quando começou a escrever "Livros da Magia", teria contatado Diana Wynne Jones, pedindo permissão para utilizar uma de suas personagens secundárias e de suas idéias como base para a minissérie que estava escrevendo para a DC Comics. 

Enfim, esta acaba sendo uma daquelas histórias em que muitos dos boatos se misturam aos fatos e acabam sendo tomados por reais confundindo fãs de ambos os personagens (inclusive esta autora que vos fala) 

Contudo, tanto Wynne Jones, que aliás diz gostar muito da criadora de Potter, quanto Neil Gaiman já declararam várias vezes que não acreditam terem sido plagiados. Gaiman, inclusive, até mesmo defendeu JK em uma de suas entrevistas (que pode ser conferida AQUI - em inglês).

Semelhanças a parte, ambas as obras possuem qualidades únicas, que não devem ser desmerecidas pelas qualidades da outra. Enquanto Harry Potter é uma série de livros voltada especialmente para o público infantil, com uma narrativa ágil que consegue ao mesmo tempo modernizar e manter o encanto de elementos das velhas fábulas, Livros da Magia é direcionada a um público composto por jovens e adultos, pois tem uma narrativa mais densa e muitas vezes mais sombria e violenta que a de Harry, mesmo se considerarmos os últimos livros da série. E, talvez por isso, Livros da Magia tenha um alcance muito mais restrito que Harry Potter.

Mas o maior achado dessas obras é que, apesar de futuros grandes magos, Harry e Tim são pessoas comuns com problemas comuns também. Isso é ainda melhor explorado e enfatizado em Timothy, que nos convence no papel de adolescente por vezes inseguro que tem que lidar tanto com as questões que surgem nesse período da vida além daqueles relacionados com seu papel místico no Universo. Já Harry, apesar de suas inseguranças e problemas, faz mais o papel do herói clássico que, apesar de tudo, acaba triunfando.

Se houve plágio ou não, nós nunca iremos saber. Talvez tudo realmente seja uma grande coincidência, quem pode dizer? Perder tempo discutindo isso, ainda mais levando-se em consideração que os próprios envolvidos resolveram colocar panos quentes no assunto, não vale a pena. Vale muito mais tentar conhecer essas duas obras e se entregar à magia.


(**) Todas as maravilhosas capas de Livros da Magia podem ser vistas AQUIhttp://www.coverbrowser.com/covers/books-of-magic

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Nascimento de um Herói



Aproveitando o lançamento de Wolverine - Imortal nos cinemas, nada melhor que lembra da Origem, entre tantas, do personagem. Claro que não vou falar daquele  o primeiro filme hediondo, mas da número da minissérie Origem, que junto com Arma X, supostamente inspirou o passado daquela abominação.

Origem prometeu desvendar o passado de Wolverine, o integrante mais popular dos X-Men. Bem, não necessariamente todo o passado dele, mas uma das partes mais importantes: as circunstâncias em que seus poderes se manifestaram pela primeira vez.



A série foi escrita por Paul Jenkins, que já havia feito um trabalho excepcional na minissérie Inumanos. A arte ficou por conta de Andy Kubert, velho conhecido dos fãs dos mutantes.

Quando Origem foi lançada nos Estados Unidosse tornou um sucesso absoluto de vendas. Seu lançamento gerou grande expectativa nos fãs, não apenas devido à popularidade do herói, mas também graças a toda aura de mistério que envolveu a personagem durante todos os anos que precederam a série.

Wolverine apareceu pela primeira vez em 1974, na revista The Incredible Hulk # 180. Criado por Len Wein, ele era originalmente um agente canadense que se envolve na luta entre Hulk e Wendigo. Pouco tempo depois, em 1975, com Chris Claremont assumindo as histórias dos X-Men (que aliás estavam em baixa na época), Wolverine volta à ativa. É na clássica Giant Size X-Men # 1 que ele faz sua reestréia, integrando os novos X-Men, juntamente com Tempestade, Noturno, Banshee, Pássaro Trovejante e Solaris. A missão do novo grupo era salvar a equipe original das garras de Krakoa, a ilha viva. 

A partir daí, o herói foi se tornando mais e mais popular, sendo o primeiro integrante do grupo a ter uma revista solo mensal. Tão popular e chamariz de vendas que foi membro ao mesmo tempo, durante um período, os X-Men, Vingadores e X-Force.

Não é também por acaso que ele foi a personagem de maior destaque no primeiro longa metragem dos X-Men. Os pessimistas e pseudo-intelectuais de plantão creditam seu sucesso ao fato de ele ser um herói violento e talvez amoral, que refletiria melhor os anseios e valores da "cética, confusa e cruel" era pós-moderna.

Quem pensa assim pouco ou nada conhece da personagem. A violência de/em Wolverine não é de modo algum injustificada. Ele não mata apenas por matar, e não pode ser classificado como um psicopata, ao contrário, por exemplo, do Justiceiro, outro herói tido como ultraviolento.

Wolverine cativa os leitores por não ser o típico herói clássico: bonzinho, puro e perfeito até a raiz dos cabelos. Logan é arrogante, sacana, irreverente, metido a durão, fã de uma boa briga e uma boa "cerva". Mas, ao mesmo tempo, é um sujeito de caráter, que valoriza e protege aqueles que ama. É alguém que luta contra um demônio interior, um cara culto que se faz de rude. Um samurai moderno com seu próprio código de honra.

Com exceção dos anos que passou com os X-Men, pouco se sabe com certeza sobre o passado de Logan. Algumas pistas e insinuações foram deixadas pelos roteiristas no decorrer dos anos (muitas delas desconsideradas pelos roteiristas posteriores), formando um quebra cabeças cujas peças são difíceis de se encaixar. O que se sabe é que, apesar de aparentar uns trinta e alguns anos, Wolverine é bem mais velho que aparenta, só não se sabe o quão mais velho.

Junto com o Capitão América, ele ajudou a resgatar a criança que se tornaria a Viúva Negra, durante a Segunda Guerra em Madripoor. Foi agente secreto ao lado de Dentes de Sabre e Marverick durante os anos 60, trabalhando também com Carol Danvers (ex-Miss Marvel, atual Capitã Marvel) e com os pais de Peter Parker, Richard e Mary. No clássico Arma X, de Barry Windsor-Smith, nos é revelado que ele foi capturado por uma agência secreta do governo canadense, que implantou o adamantium nos seus ossos, e cuja intenção era transforma-lo no protótipo do soldado perfeito.

Depois de fugir, ele foi encontrado por acaso(?) por James e Heather Hudson, que estavam em lua-de-mel na região. Coincidentemente(?), James trabalhava para uma agência do governo canadense, o Departamento H, e convence Logan a se tornar o líder da super equipe do país, a Tropa Alfa. Depois de um tempo, Wolvie se enche de ser mandado pelos grandalhões do governo, dá no pé e se junta aos X-Men. Além de toda essa trama de espionagem e conspiração governamental, sabe-se que Logan passou um tempo no Japão, estudando artes marciais e filosofia com Ogum, onde posteriormente se envolveu com a ninja Yukio e seu grande amor, Mariko Yashida, base do novo filme do herói. 

Ainda supostamente, ele esteve no velho oeste(?), quando enfrentou Dentes de Sabre pela primeira vez. O vilão supostamente matara a namorada do herói, a índia Raposa de Prata, que, num desses lances típicos da Marvel, reapareceu viva e como agente da Hidra. Somam-se a isso tudo outros incidentes conflitantes e confusos entre si.

A situação chegou a tal ponto que a solução dos roteiristas foi alegar que Wolverine passou por um processo de implantes de memórias. Aparentemente, ele, Dentes de Sabre, Marverick e Raposa Prateada foram todos cobaias de um experimento secreto e muito do que se lembram não passa da mais deslavada mentira.

Depois dessa novela toda, a maioria dos leitores já havia se conformado que o mistério sobre suas origens continuaria infinitamente insolúvel. Por isso, a publicação de Origem foi uma surpresa geral. Além dos anseios e curiosidades sobre a origem definitiva de Wolverine, havia o medo de que tal revelação destruísse todo o magnetismo da personagem.

O mais incrível de tudo é que a história de Jenkins conseguiu superar todas as expectativas, talvez com uma pequena exceção ao último volume, um pouco rápido demais para solucionar as pontas soltas deixadas no decorrer da trama.

Mas a forma madura como ele constrói tanto as personagens quanto a narrativa, e o final surpreendente do segundo capítulo, certamente nos fazem lamentar que Wolverine não se lembre de seu passado.

O começo da história, para quem ainda não leu, é mais ou menos assim: a jovem Rose, depois da morte dos pais, vai morar na mansão dos Howlett, a família mais rica da região. Sua função é cuidar do filho caçula, James, uma criança de saúde extremamente delicada. O patrão, John, pai de James, é extremamente bondoso com a criadagem; tem problemas em lidar com seus negócios e também com a reclusão da esposa, após a morte do primeiro filho, e com a intromissão constante de seu pai, um velho sovina e rude. Além de Rose e James, outra criança está sempre na mansão, Cão, o filho do jardineiro, o violento Logan. Inicialmente, as crianças se tornam amigas, o que de certa forma parecia até natural, mas as diferenças sociais e as circunstâncias não permitem a continuidade da amizade. Tudo isso é contado pela perspectiva de Rose.

É impossível não se lembrar de O Jardim Secreto quando se lê os primeiros capítulos de Origem: a estrutura de ambas as histórias é a mesma. Mas ao contrário de O Jardim Secreto, não existe uma redenção final encontrada no amor. As relações das personagens são inevitavelmente densas e tensas, os muros da mansão guardam funestos segredos e a tragédia futura é inevitável. Tudo isso gera um clima que acaba por envolver totalmente o leitor, e comentar mais alguma coisa acabaria por estragar todo o impacto da história.

O período em que se passa a história é impreciso, aparentando ser por volta de 1800 e alguma coisa, deixando ainda em suspense a verdadeira idade de Wolverine. A personagem Rose, com seus cabelos ruivos e olhos verdes, lembra, sem sombra de dúvida, Jean Grey, por quem Wolverine sempre nutriu uma paixão nada secreta. E a relação entre ela, Cão e James também nos remete aos triângulos amorosos protagonizados pelo herói, tanto com Jean e Scott (Ciclope), como com outra ruiva de sua vida, Heather, e seu marido James.

Origem é tudo o que não se espera de uma revista sobre super-heróis - mais que isso: é tudo que não se esperava da origem de Wolverine. É fantástica e surpreendentemente adulta e, muitos consideram, juntamente com Arma X, a melhor história já escrita sobre essa personagem tão carismática. Origem é obrigatória não apenas para os fãs dos X-Men e de Wolverine, mas especialmente para aqueles que não gostam do herói, pois serão presenteados com uma perspectiva totalmente diferente de Logan.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cidadão Kurt



Tão importante quanto o parceiro do herói (quando ele existe), sua namorada (quando ela existe), seu passado (quando nos é revelado) e suas motivações, é a cidade onde o herói reside. É impossível não pensar em Batman sem pensar em Gotham City ou no Super-Homem sem Metropolis, no Starman sem Opal City ou nos heróis da Marvel sem Nova York. Mais do que ser o local onde o herói mora e vive suas aventuras, a cidade reflete aspectos da própria personalidade do seu notório morador. Gotham é sombria como Batman, Metropolis é clean como Super-Homem, e a Nova York da Marvel é um poço de diversidades e surpresas como os heróis que nela vivem.


Se uma cidade é assim tão importante e característica na vida de um herói, por que não escrever uma revista sobre uma cidade cujos heróis e outros moradores são importantes para a vida dela? Partindo desse ponto, Kurt Busiek, conhecido principalmente por seu trabalho na minissérie Marvels e nas séries Vingadores e Thunderbolts, criou a série e a cidade Astro City, publicada originalmente pela Wildstorm e a DC trouxe de volta pelo selo Vertigo no último mês.



Astro City é uma cidade que reúne em si todos os aspectos de suas antecessoras: é "dark" como Gotham, iluminada como Metropolis e diversificada como a Nova York da Marvel, entre outras qualidades. E um dos charmes da cidade (e da revista) reside exatamente nessa variabilidade de qualidades que torna, paradoxalmente, Astro City única.

Existe um dito tipicamente americano, muito comum em filmes noir, que diz que "existem milhares de histórias na cidade, essa é apenas uma delas". Pois Busiek inverte completamente esse conceito: para ele, se existem milhares de histórias na cidade (no caso, Astro City), por que contar apenas uma, por que não contar as milhares, ou pelo menos o máximo possível? E é isso que ele faz, e, dependendo do teor da história, um dos aspectos da cidade é ressaltado.

Extremo conhecedor da cronologia e das histórias das personagens de HQs, especialmente das duas maiores editoras do mercado, DC e Marvel, Kurt Busiek se utiliza disso na criação de suas personagens e histórias.
Não é por acaso que Samaritan lembra o Super-Homem, que Winged Victory remete-nos à Mulher Maravilha, Confessor e Altar Boy a Batman e Robin, que a Honor Guard seja a liga da Justiça de Astro City, que Jack-In-The-Box tenha um quê de Homem-Aranha e Demolidor, que a First Family, seja na sua composição, aparência, ou no nome (e iniciais) seja inspirada no Quarteto Fantástico (Fantastic Four). Ou até mesmo que o espírito denominado The Hanged Man, protetor da região de Shadow Hill, a colônia de imigrantes do leste europeu de Astro City, assombrada por espíritos e afins, tenha um modelo externo na figura do Desafiador (Deadman), da DC. Isso sem falar em muitos outros exemplos.

Ao contrário do que línguas ferinas e invejosas possam dizer, não se trata de plágio ou cópia. Essas semelhanças são intencionais. São uma forma de Busiek homenagear todos os heróis originais, ao mesmo tempo em que busca através disso explorar aspectos dessas personagens, em suas contrapartes de Astro City, que a estrutura comercial de suas revistas ou aspectos de suas intricadas cronologias não permitiriam.

Coisas tais como um herói extremamente poderoso como o Super-Homem, no caso o Samaritan, ser incapaz de viver uma vida normal como qualquer um de nós através de seu alter-ego, ou até mesmo encontrar prazer no uso de seus poderes, por estar por demais ocupado com as responsabilidades de salvar vidas e proteger inocentes que esses poderes lhe trazem. Ou ainda uma criança como Franklin Richards, filho do Sr. Fantástico e da Mulher-Invisível do Quarteto, representado na figura de Astra, filha de membros da First Family, podendo se sentir sozinha e isolada, apesar de todas as incríveis aventuras que vive com sua família, e cujo maior desejo seria conviver com outras crianças de sua idade.

Por vezes, os protagonistas das histórias não são heróis, mas cidadãos comuns de Astro City. Assim como fez em Marvels, através da figura do fotógrafo Phil Sheldon, Busiek mostra o ponto de vista da pessoa comum sobre os acontecimentos fantásticos que a cercam. Uma das melhores histórias nesse estilo fala das conseqüências de eventos, como Crise nas Infinitas Terras, na vida de uma pessoa normal.

Na época da  Wildstorm, através do selo Homage era desenhada por Bret Anderson. As capas e o visual das personagens ficavam a cargo de Alex Ross (O Reino do AmanhãMarvels). Ambos retornaram no relançamento pelo selo Vertigo.

A série já ganhou vários prêmios, inclusive o prêmio Eisner, a maior premiação das HQs. A Pixel trouxe alguns números para o Brasil, mas, infelizmente, não a série inteira.

Agora é torcer para a série fazer novo sucesso na Vertigo e, quem sabe, ser novamente publicada aqui pela Panini, pois realmente vale a pena visitar essa cidade, suas histórias e personagens.

domingo, 30 de junho de 2013

Laços - Resenha

Arte: Lu Cafaggi   Foto:http://migre.me/fcU0t

Sem querer ser parecer esnobe, mas (infelizmente) já sendo, meu primeiro contato com Laços, tirando os anúncios da Internet, foram os originais do Vitor. Quem me conhece sabe que trabalho na Casa dos Quadrinhos e nós estamos organizando uma exposição com os originais dele e da Lu.

O coordenador da escola me passou os originais para escolhermos as melhores páginas (tarefa quase impossível, pois são todas maravilhosas), e eu comecei a folhear, sem conseguir despregar os olhos direito.

Mesmo sem o texto já dava para pescar alguns detalhes deliciosos.

Assim que eu arrumei uma brechinha, mandei um e-mail para o Vitor falando: "vi os seus originais de Laços e só posso dizer uma coisa PQP. Qdo eu solto um PQP é pq eu realmente gostei. E olha que eu vi sem o texto".

O Vitor ficou feliz com meu PQP e ainda completou que eu precisava ver os desenhos da Lu.

como precisava, não apenas os desenhos da Lu, mas também a história com o texto completo e os desenhos com as cores, o conjunto inteiro fez uma enorme diferença no resultado final. Se eu havia adorado a história sem os balões, com as falas me rendi completamente.

Terminei com lágrimas nos olhos.

Um pouco pela nostalgia porque vi muita coisa da minha infância ali, cresci vendo Goonies, Garotos Perdidos, Deu a louca nos Monstros, Viagem ao Mundo dos Sonhos e Conta Comigo. A história  realmente tem um climão desses filmes gostosos que a gente costumava ver na Sessão da Tarde dos anos 80 (Sessão da Tarde já foi sinônimo de filmes bacanas).

Goonies


Além de ter também, a questão da fuga do Floquinho, quem tem um cachorro, sabe como doi perdê-lo. Especialmente quando a gente é criança e já passou por algo parecido, sem um final feliz. Amor de cachorro é o mais incondicional de todos.

Acho que todo mundo já falou e não custa repetir a forma como eles trabalharam bem a relação, ou melhor, os laços entre os personagens, como cada um dos membros da turminha completa o outro, chegando a um equilibrio. Como Lu e Vitor enriqueceram personagens que já eram ricos. Ou como as cores do livros são maravilhosas. Gosto desses tons pastéis que o Vitor usa desde Duotone.

Duotone

Maravilhoso como o trabalho da Lu fortalece o do Vitor e vice versa. As páginas feitas pela Lu (inclusive as artes da contracapa) dão uma dimensão ainda maior para a história, tornando o background da aventura em busca do Floquinho ainda mais consistente.

A delicadeza dos traços da Lu é algo excepcional, e, confesso que fiquei particularmente apaixonada pelo cabelo do Cascão que ela fez.

Mas não é só a relação entre os quatro que é tão bem delineada, mas também a do Cebolinha com sua família, ou das famílias entre si (adorei o Xaveco brincando com a Maria Cebolinha), tudo mostrado em poucos, mas precisos, quadros.

Entretanto, são os detalhes no decorrer da história (e aqui vem os SPOILERS), que me conquistaram de vez.

Detalhezinhos que são cereja do sundae:  por exemplo, o  Cascão de Capitão Gancho parando para beijar a Cascuda, apesar de fugir da Monica, o Titi cantando a Aninha, o Xaveco se ferrando, a aparição da Xabeu, a cena do Cascão correndo de um lado do outro no quadrinho vigiando os amigos dormindo.

Adorei o modo como usaram a referência a Peter Pan, que eu achei que ia ficar só no começo, mas que depois foi bem reaproveitada, e comecei a viajar no fato de que, apesar da turma da Mônica Jovem, eles são meio como Peter Pan, pois nunca crescem.  Na história eles são literalmente, Meninos Perdidos, mas acabam, também, metaforicamente, o sendo.

Outras coisas interessantes  são: o fato como os Cafaggi conseguiram sugerir a falta  de dedões no Cascão, Mônica e Magali, ao perderem os sapatos e ficarem só de meias, enquanto o Cebolinha continua calçado (acho que tem alguma história que fala isso, mas não tenho certeza), ou o quadro do quarto do Cebolinha  como Tocador de Pifaro, tal qual apareceu na clássica série Quadrões da Turma da Mônica, ou o Cebolinha ainda ter o caminhãozinho que o Cascão deu primeiro dia que se conheceram (coisa que a gente só vai ver no final da história), a história do Maurício criança, e as histórias da turminha ao redor da fogueira, que são, para quem tem uma memória relativamente boa, referências a outras histórias da Turma da Mônica.

Quadrões Vol 01


A estante de brinquedos do Cebolinha é um caso a parte, com Homem-Aranha, Optimus Prime, He-Man, Lion-O. Quem já leu Puny Parker, sabe que o Peter também tinha alguns desses brinquedos, o que me faz pensar se não seriam os brinquedos da infância do Vitor.

Puny Parker # 121 por Vitor Cafaggi

Obviamente não poderia deixar de falar nas participações especiais no decorrer da história:

Manual do Patinho Escoteiro é obviamente referência ao saudoso Manual do Escoteiro Mirim, leitura quase obrigatória para o pessoal da minha geração (que é a mesma do Vitor).



Os arquinimigos da Turminha são a cara da Turma da Luluzinha, é fácil identificá-los com Bolinha, Lulu, Glorinha, Aninha, Carequinha, Zeca, Juca, Plínio. Que aparentemente são "garotos malvados", mas que mostram seu caráter nobre ao cederem bicicletas ao Cebolinha e seus amigos prosseguirem na busca por Floquinho.

Turma da Luluzinha

Claro que quem cresceu vendo Chaves deve ter também percebido que um certo vendedor de churros chamado Ramon é ninguém mesmo que Don Ramon, conhecido aqui como Seu Madruga.

Seu Madruga vendendo churros

 Não poderia deixar de falar da sequencia de abertura de Laço, que tem um quê da sequencia dos Goonies (minha sequencia favorita de abertura de filme de todos os tempos), apresentando os personagens em uma perseguição com várias coisas acontecendo em paralelo. Também amei o modo como terminaram a graphic exatamente com uma sequencia igual ao do começo, fechando um ciclo e começando outro, lembrando que a turma da Mônica possui em sua essência essa coisa  de situações se repetirem e se renovarem.

Laços simplesmente tocou meu coração.

Quem tiver a oportunidade de ir na Casa dos Quadrinhos ver os originais depois de ler a graphic, não vai se arrepender.



Para encerrar, gostaria de citar o Sidney Gusman, que disse exatamente o que penso sobre os dois irmãos:

"Dois dos mais promissores talentos do quadrinho nacional, Vitor e Lu Cafaggi têm uma qualidade rara: eles transmitem uma carga absurda de emoção em suas histórias, sem nunca pender para o piegas. Muitos tentam isso; poucos conseguem." 
                                                    Sidney Gusman, editor de Turma da Mônica – Laços

ps- O Rafael da Costa Silva me falou no  Facebook que tem também referência a Warriors, mas como não vi o filme, me passou despercebido. Se alguém observar mais alguma coisa, sinta-se a vontade para deixar nos comentários.