sexta-feira, 31 de agosto de 2012

À Sombra do Samurai




Alguns anos atrás estreou na Globo, timidamente e sem nenhum estardalhaço, um anime chamado Samurai X. Embora tenha sofrido horrores nas mãos da emissora, com cortes inexplicáveis e episódios perdidos, Samurai X conquistou uma legião de fãs e se tornou um cult. Posteriormente o CartoonNetwork trouxe o anime de volta. Em 2001, junto com Sakura Card Captors, foi um dos primeiros títulos a ser lançado pela JBC, dando o pontapé para o boom de mangás que vieram posteriormente.

Felizmente,  a editora JBC está dando aos velhos e novos fãs de Kenshin Himura a oportunidade de voltar ou começar a acompanhar suas histórias através do relançamento do mangá.  

Samurai X, ou Rurouni Kenshin, como é conhecido em sua terra natal (algo como "O Vagabundo Kenshin") e que vai ser o título da republicação, conta a história de Kenshin Himura, um andarilho, e se passa nos primeiros anos da Era Meiji, quando o Japão se abriu ao mundo ocidental. Apesar da aparência inofensiva, Kenshin é na realidade o famoso Hitokiri Battousai, o Retalhador, que lutara na guerra civil que estabeleceu a Era Meiji e era conhecido tanto pela habilidade com a espada quanto pela frieza e crueldade com que matava os inimigos. Tentando expiar seus pecados, jurou nunca mais matar e passou a vagar pelo país, ajudando as pessoas, até que conheceu Kaoru Kamiya e passou a morar em seu dojo. A eles se juntaram posteriormente o garoto Yahiko Myoujin, filho de ex-samurais, Sanosuke Sagara, um ex-lutador de aluguel, e Megumi Takani, uma médica que se viu envolvida com o tráfico de ópio. 

Lançado originalmente na revista Shukan Shonen Jump em 1997, Rurouni Kenshin foi o primeiro trabalho autoral de Nobohiro Watsuki em série contínua. Antes ele já havia trabalhado como assistente de Takeshi Obata (Arabian Lamp Lamp) e Youichi Takahashi (Captain Tsubasa/Super Campeões), e feito também algumas histórias curtas, inclusive as que deram origem à saga de Kenshin Himura (e foram publicadas aqui no Brasil na própria revista do herói).

Com uma arte primorosa, que sabe combinar os traços estilizados típicos do mangá com composições que ora beiram o realismo ora beiram o fantástico, além de uma arte finalização que utiliza com eficiência a luz e a sombra, Samurai X acabou por  se tornar um clássico no universo dos mangás. 

Se só o trabalho de Watsuki como desenhista não for o suficiente para conceder esse título a Rurouni Kenshin, a história do mangá o faz. O enredo apresenta elementos já vistos anteriormente em muitas histórias: um herói com um passado obscuro, que é amado por uma linda e jovem donzela, mas que acredita precisar de redenção antes de merecer ser feliz. E para tal intento, conta com o amor e a dedicação de seus amigos mais leais. Apesar disso, a forma como os personagens são caracterizados e o modo como se inter-relacionam, numa mistura equilibrada de tragédia e humor, tornam a história carismática e emocionante. 

Kenshin pode ser tanto doce e atrapalhado quanto sombrio e amargurado, assim como Kaoru é a mais romântica e inocente das donzelas, sendo ao mesmo tempo a mais corajosa e audaciosa de todas. E o mesmo pode ser dito de todos os outros personagens, que se apresentam como uma miríade de qualidades, emoções e defeitos, tão complexos e sutis como qualquer pessoa real. 

A pesquisa e a reconstituição histórica do período em que se passa a história é um caso à parte, sendo comprovada pelos comentários de Watsuki, nos quais percebemos todo o seu empenho na construção de saga de battousai. Seus comentários, ou sobre a composição das personagens ou recados para os leitores, e que foram incluídos na versão brasileira (embora sejam originalmente dirigidos aos leitores japoneses), nos tornam mais próximos da obra, como se aquilo fosse mesmo direcionado a nós e estivéssemos participando da gestação da história. Embora seja uma ilusão, é uma boa ilusão, pois nos dá uma sensação de afetuosa familiaridade com o mangá que temos em mãos. 

Em relação ao anime, vale a pena conferir as partes realmente inspiradas pelo mangá, especialmente a saga da Juppongatana, em que Kenshin e companhia enfrentam Makoto Shishio. O OVA que trata do passado do battousai e seu relacionamento com a falecida esposa, Tomoe, também é primoroso, e têm um clima mais sombrio e taciturno. Entretanto, o segundo OVA, que conta a história dos personagens anos depois da série original, divide os fãs entre aqueles que amam  e os que odeiam.

Se tudo isso não bastasse, a série animada também possui uma das melhores trilhas sonoras de animes que eu já escutei. Recomendável para quem curte J-Pop e J-Rock. 

O sucesso de Rurouni Kenshin é tamanho que o mangá, mesmo depois de 18 anos do início da publicação original, ganhou uma versão em filme live action, que estreou no Japão no dia 25 de agosto deste ano. E que não tem a mínima previsão de estrear no Brasil. Com sorte, talvez o consigamos em DVD ou Blu Ray.

Mais que uma história sobre um determinado período histórico do Japão, Samurai X se trata de uma história sobre amor e amizade, redenção e lealdade. Fala sobre como é possível, apesar de todas as mudanças que ocorrem no mundo, escolher fazer o certo, ajudar aqueles que necessitam da melhor maneira que pudermos. É essencialmente sobre a possibilidade de iniciarmos vida nova e encontrarmos a felicidade. E isso não se restringe a um país ou a uma época específica: é universal e atemporal.




2 comentários:

  1. Nossa, preciso retomar o anime algum dia, parei entre o episódio 20 e 30... Muito bom o artigo!

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  2. Vou assisti-lo dia 10 e te digo se é bom ou não. :)

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