sábado, 28 de julho de 2012

Mulher Gato em Teto de Zinco Quente (atualizado)

Quem é a Mulher Gato, afinal?

A personagem surgiu em 1940, na revista Batman # 1 (curiosamente, o Coringa também apareceu nessa edição), com o nome original "The Cat", e não usava nenhum uniforme especial. Desde as primeiras histórias, The Cat   já era uma ladra e Batman sempre demonstrou certa complacência em relação à felina: após recuperar os frutos do roubo de The Cat, Batman simplesmente deixa a mocinha escapar. Seria amor bandido à primeira vista?

Durante um bom tempo, Bob Kane (criador do Batman e de grande parte das personagens da série, juntamente com Bill Finger) tentou encontrar o visual (usando a própria namorada como modelo) e o nome ideais para a personagem. Depois de algumas aparições como The Cat, ela se transformou em Selina Kyle, uma dona de lojas de animais que simplesmente decidiu se tornar ladra e mudou o nome para Mulher Gato (Catwoman). Vestida com um esvoaçante vestido de seda e portando um chicote, ela se tornou uma das personagens mais sexies da história dos quadrinhos.



A maioria de seus crimes era relacionada com gatos e Selina nunca foi nada mais que uma ladra. Não era necessariamente uma personagem "má", mas sim uma aventureira que sentia um prazer especial em burlar a lei e trazer dor de cabeça para o Morcegão.

Desde o início também ficou subentendida certa tensão sexual e um atrativo romântico entre a Mulher Gato e o Batman. Talvez, na cabeça dos criadores da personagem, nada melhor para pegar um rato voador do que um gato, ou melhor, uma gata.

Com a onda de moralização que varreu os quadrinhos durante os anos 50, a personagem acabou ficando um pouco para escanteio, até que, graças à batmania deflagrada pela série de TV estrelada por Adam West (Batman) e Burt Ward (Robin), a Mulher Gato voltou ao auge.



Na série, ela era vivida primeiramente pela atriz Julie Newmar. Na imaginação da maioria dos fãs, nunca houve nem haverá uma Mulher Gato como Newmar. Sexy e divertida, a versão da Mulher Gato vivida por Newmar não tinha a dualidade moral da personagem dos quadrinhos. Ela era uma vilã, mas ainda assim sedutora e carismática. Um femme fatale vestida em látex e com orelhas de gato. Nem o Batman poderia resistir ao seu charme. O sucesso da personagem foi tanto que, nos quadrinhos, a Mulher Gato passou a ser retratada fisicamente de forma semelhante à personagem da série.

O sucesso do seriado do Batman também foi tamanho que decidiram fazer um longa metragem com as personagens. Como a série, o longa era nada mais nada menos que uma sátira exagerada ao universo dos Comics. No filme, um grupo de vilões, formado pelo Coringa (Cesar Romero), Charada (Frank Gorshin), Pingüim (Burgess Meredith) e Mulher Gato, decide atacar os líderes mundiais, cabendo à dupla dinâmica impedir esse vil intento. Na época, Julie Newmar não estava disponível, pois estava filmando O Ouro de MacKenna (famoso pela cena em que ela aparece "nua"), e foi substituída quase à altura por Lee Meriwether, uma ex-Miss América.



Na terceira temporada da série, saiu Julie Newmar e entrou a cantora Eartha Kitt em seu lugar. A explicação oficial foi a de que Julie Newmar estava com a agenda cheia no período. No entanto, segundo as más línguas, tudo não passou de uma manobra para não deslocar as atenções do público para a Batgirl como possível interesse romântico do Batman. Isso porque a Mulher Gato de Eartha Kitt é muito mais cômica e exagerada que a protagonizada por Newmar.



Pouco tempo depois, também foi lançado um desenho animado estrelado por Batman e Robin. Nele, o uniforme da Mulher Gato, apesar de verde, era inspirado no do seriado. Ela era uma vilã propriamente dita, cercada de capangas e dirigia um Gatomóvel e um Gatocóptero - todos com enormes orelhas de gato.

Nos quadrinhos, a personagem continuou sua vidinha básica de ladra charmosa... Com algumas ressalvas. Na década de 70, no universo conhecido como Terra 2 (uma cópia da Terra oficial da DC, no qual os heróis eram todos mais velhos), Selina Kyle abandonou o mundo do crime e se casou com Bruce Wayne. Os dois tiveram uma filha, Helena Wayne. Selina foi morta por um de seus ex-parceiros de crime, o que levou Helena a se tornar a heroína Caçadora. Tal história foi aproveitada anos depois na série de TV Birds of Prey (SBT e Warner), estrelada pelas personagens Caçadora (Helena Kyle), Oráculo (Bárbara Gordon) e Canário Negro (Dinah). Infelizmente, o seriado foi cancelado logo na primeira temporada.

Mas eis que chegamos ao ano de 1985 e ocorre na DC Comics um mega evento chamado Crise nas Infinitas Terras. Para quem não sabe, esta saga escrita por Marv Wolfman e desenhada por George Perez teve como função arrumar o balaio de gatos que se tornou a cronologia da DC com suas centenas de Terras paralelas. As Terras foram fundidas numa só, e muitos personagens morreram ou foram alterados.

A maioria das personagens clássicas da DC passou por reformulações em suas origens, apesar de seus aspectos essenciais terem sido mantidos. Foi assim com o Superman de John Byrne, a Mulher Maravilha de George Perez e o Batman de Frank Miller.

Miller, que já havia escrito o aclamado Batman Cavaleiro das Trevas, escreve Batman Ano Um em parceira com David Mazzucchelli (desenhos, antigo parceiro de Miller em Demolidor) e Richard Lewis (cores). Batman Ano Um, como o próprio nome diz, narra os infortúnios do Cavaleiro das Trevas no seu primeiro ano de combate ao crime. Selina então é retratada como uma sexy prostituta que decide abandonar o ofício para se tornar a ladra mascarada Mulher Gato.

Logo em seguida foi lançado um especial intitulado Mulher Gato, que reconta a origem da personagem. Inicialmente, Frank Miller escreveria o especial, mas após um desentendimento do autor com a editora, Mulher Gato passou para as mãos de Mindy Newell.


Newell aproveita toda a caracterização criada por Miller em Batman Ano Um e elabora uma história paralela estrelada por Selina Kyle, aqui uma prostituta de rua violentamente abusada por seu cafetão. Após passar um tempo internada em um hospital, um policial a encaminha para o herói aposentado Pantera Negra. Ele ensina Selina a lutar e a se defender. Depois disso, ela decide abandonar a vida nas ruas, tornando-se a ladra conhecida como Mulher Gato.

Certos aspectos dessa versão da heroína foram aproveitados por Jeph Loeb nas suas séries O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria que, se observadas com atenção, podem ser consideradas quase como continuações de Batman Ano Um.

Nos anos que se seguiram, o passado duvidoso de Selina Kyle como prostituta foi deixado um pouco de lado, praticamente esquecido. Até tentaram recontar sua origem após o evento Zero Hora (quase uma continuação da Crise), praticamente excluindo os eventos referentes à vida de Selina como prostituta.

Em 1992, Tim Burton dirige Batman - O Retorno, segundo filme da franquia do Cavaleiro das Trevas no cinema. Aqui, Selina (vivida por Michelle Pfeiffer, ao lado na foto) era secretária de Max Schreck (Christopher Walken). Após descobrir uma de suas falcatruas, ela foi assassinada por ele. Misteriosamente, é revivida por vários gatos, tornando-se a sexy vilã Mulher Gato. Aliada ao Pingüim (Danny DeVito), ela coloca em ação um plano para prejudicar Gotham City e Schreck, tendo o intento de se vingar do seu ex-chefe. Como nos quadrinhos, existe uma forte atração entre a Mulher Gato e o Batman (Michael Keaton), assim como entre seus alter-egos Selina Kyle e Bruce Wayne. A atuação de Michelle Pfeiffer é marcante e torna a Mulher Gato tão sexy, dual e carismática quanto à versão protagonizada por Newmar na série de TV. Ou talvez muito mais.



A versão Mulher Gato de Pfeiffer impressionou tanto que a personagem foi retratada loira no excelente desenho Batman The Animated Series (de Paul Dini e Bruce Timm), tal como a atriz, ao invés de morena, como nos quadrinhos. Somente depois de algumas temporadas é que a Mulher Gato passou a ter seu cabelo moreno clássico de volta. No desenho, a identidade de Selina como Mulher Gato é de conhecimento público e ela inclusive não é tão "vilã" como em suas outras versões, sendo até retratada como uma ativista de Direitos dos Animais. Na versão animada, ela era dublada por Adrienne Barbeau.


Enquanto isso, nos quadrinhos, a Mulher Gato começou a ganhar mais espaço dentro do universo do Morcego e passou a protagonizar sua própria revista. Escrita por Jo Duffy e desenhada por Jim Balent, a versão da Mulher Gato mostrada nessa série era muito mais aventuresca e bem humorada que a sombria versão recriada por Miller.

Pouco tempo depois, a série foi reformulada. Muitas das pontas soltas deixadas para trás, inclusive o passado de Selina Kyle como prostituta, foram retomadas e novamente explicadas. O uniforme da personagem mudou outra vez e a história enfatiza mais numa espécie de guerrilha urbana.

Loeb aproveitou bem essa "nova" Mulher Gato na sua mega saga Silêncio, publicada no Brasil pela Panini e desenhada por Jim Lee. Nela, Loeb tentou estreitar os laços entre a Mulher Gato e o Homem Morcego, tornando o romance entre os dois ainda mais explícito.



Houve também o fatídico filme da Mulher Gato, estrelado por Halle Berry. Nele, Patience Phillips é uma artista plástica frustrada que trabalha como designer em uma companhia de cosméticos. Certo dia, ela descobre que o novo produto a ser lançado pela empresa provoca, com o uso contínuo, a deformação do rosto de suas usuárias. Assim, ela é assassinada por seus patrões. Patience morre e é ressuscitada por vários gatos, meio que num ritual felino. Poderes semelhantes aos de um gato lhe são transmitidos por uma felina especial, mensageira da deusa dos gatos Bast, que lembra bastante a cena do filme do Burton. A partir daí, Patience se torna a Mulher Gato, que não é necessariamente uma heroína. E tenta desvendar o mistério envolvendo sua morte. O filme se mostrou como uma bomba completa, com inúmeros equívocos reunidos. Desde roteiro, passando por figurino, direção, edição, atuações, trilha sonora. A história é mal escrita, cheia de furos e explicações completamente forçadas.  Não por acaso, foi o ganhador do Framboesa de Ouro de 2004, prêmio concedido aos piores filme do ano.

Em 2004 também estreou a série The Batman, cujo principal idealizador foi Jeff Matsuda, responsável pelo consagrado desenho As aventuras de Jackie Chan. A série durou até 2008 com um total de 65 episódios. Seu propósito era alcançar o público infantil, e, para isso mostrava um Bruce Wayne mais jovem, de aproximadamente 20 anos, em seu começo de carreira. O clima é muito mais leve que das série anteriores, se aproximando muito mais do trabalho anterior de Matsuda que das animações anteriores do Morcego. O designer dos personagem foi muito criticado entre os fãs, especialmente o do Coringa.



Entretanto, apesar de bem mais morena que nas versões anteriores, a Mulher Gato passou incólume. Seu uniforme remetia aos quadrinhos, apesar das orelhas maiores que o usual. E sua caracterização era de uma aventureira que se divertia em burlar a lei.

Apesar das ressalvas do público, a série ganhou seis vezes o prêmio Daytime Emmy Awards.

Em 2008, foi lançada a série Batman: The Brave and  The Bold (Batman: O Bravos e Destemidos), também voltada para o público infantil. Baseada na clássica revista de mesmo nome, suas histórias remetiam às aventuras exageradas e, por vezes nonsense, que o herói vivia no fim dos anos 40 e nos anos 50, muitas vezes magistralmente desenhadas por Dick Sprang. Aliás, o traço do artista inspirou o design da série.  E a Mulher Gato, como a versão daquela época, encarna novamente a ladra de vestido esvoaçante e chicote.


Nos quadrinhos, depois da gravidez de Selina Kyle e nascimento de sua filha, nas histórias escritas por Ed Brubaker, Holly Robinson assumiu o manto da ladra felina.

Robinson surgiu em Batman Ano Um. Ela era uma jovem prostituta – aparentando ser menor de idade – que morava com Selina Kyle. Depois de vários problemas, Selina precisou deixar Holly com sua irmã, Maggie Kyle, uma freira.

Holly não se adaptou à vida no convento e acabou voltando para as ruas.

Em uma das versões da história, ela se casou com um milionário, sendo assassinada por ele, fazendo com que Selina buscasse vingança pela morte da amiga.

Ignorando esse fato – algo justificado, considerando-se os constantes reboots da cronologia da DC, Brubaker fez de Holly uma viciada que reencontra Selina em sua velha vizinhança, ganhando uma segunda chance.

Para explicar a ressurreição da moça, o autor se aproveitou de um dos mencionados reboots, o Zero Hora, criando uma história extra que explicou o retorno de Holly.



Durante um tempo, Holly teve um bom desempenho em sua vida de anti-heroína até ser injustamente acusada de assassinato e ter se tornado uma fugitiva.

Em 2004, a série da Mulher Gato ganhou o GLAAD Media Award, prêmio da
Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD), por mostrar Holly como lésbica de forma positiva e aberta.

Depois do relaunch realizado pela DC Comics, reiniciando sua cronologia através dos títulos conhecidos como os Novos 52, Selina Kyle se consolidou novamente como Mulher Gato, e protagonizou uma das cenas mais polêmicas desse recomeço, onde ela e Batman fazem sexo, ambos usando seus uniformes.



Agora é a vez de Anne Hathaway  assumir a personagem nos cinemas, em Dark Knight Rises, filme que fecha a série iniciada por  Christopher Nolan com Batman Begins em 2005.

Seu uniforme é claramente uma homenagem ao visual de Julie Newmar na série dos anos 60, adaptado para o universo pretensamente realista criado por Nolan.

Muitos fãs duvidavam da capacidade da atriz em conseguir encarnar a personagem. Depois da estreia do filme, público e crítica, em sua maioria, não poupam elogios à moça, e os mais entusiasmados, cogitam uma indicação ao Oscar pelo papel.


Só vendo o filme para ver conferir se esse alvoroço é justificável.

Contudo, é inegável que em quase todas as suas encarnações a Mulher Gato sempre fascinou seus fãs não apenas por seu jeito sexy e um pouco selvagem, mas pela sua força, carisma e dualidade moral. Enfim, uma personagem intrigante e sedutora, essencial na Mitologia do Homem Morcego.

Também publicado no site Terra Zero: http://www.terrazero.com.br/2012/08/mulher-gato-em-teto-de-zinco-quente/

2 comentários:

  1. Otimo texto, a unica ressalva q eu faria é q a Terra 2 era a terra dos herois originais da DC como o Lanterna Verde Alan Scott, Flash Jay Garrick(Conhecido no Brasil como Joel Ciclone, um nome bem mais legal). Mais uma vez, Otimo Post ^^

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