domingo, 30 de junho de 2013

Laços - Resenha

Arte: Lu Cafaggi   Foto:http://migre.me/fcU0t

Sem querer ser parecer esnobe, mas (infelizmente) já sendo, meu primeiro contato com Laços, tirando os anúncios da Internet, foram os originais do Vitor. Quem me conhece sabe que trabalho na Casa dos Quadrinhos e nós estamos organizando uma exposição com os originais dele e da Lu.

O coordenador da escola me passou os originais para escolhermos as melhores páginas (tarefa quase impossível, pois são todas maravilhosas), e eu comecei a folhear, sem conseguir despregar os olhos direito.

Mesmo sem o texto já dava para pescar alguns detalhes deliciosos.

Assim que eu arrumei uma brechinha, mandei um e-mail para o Vitor falando: "vi os seus originais de Laços e só posso dizer uma coisa PQP. Qdo eu solto um PQP é pq eu realmente gostei. E olha que eu vi sem o texto".

O Vitor ficou feliz com meu PQP e ainda completou que eu precisava ver os desenhos da Lu.

como precisava, não apenas os desenhos da Lu, mas também a história com o texto completo e os desenhos com as cores, o conjunto inteiro fez uma enorme diferença no resultado final. Se eu havia adorado a história sem os balões, com as falas me rendi completamente.

Terminei com lágrimas nos olhos.

Um pouco pela nostalgia porque vi muita coisa da minha infância ali, cresci vendo Goonies, Garotos Perdidos, Deu a louca nos Monstros, Viagem ao Mundo dos Sonhos e Conta Comigo. A história  realmente tem um climão desses filmes gostosos que a gente costumava ver na Sessão da Tarde dos anos 80 (Sessão da Tarde já foi sinônimo de filmes bacanas).

Goonies


Além de ter também, a questão da fuga do Floquinho, quem tem um cachorro, sabe como doi perdê-lo. Especialmente quando a gente é criança e já passou por algo parecido, sem um final feliz. Amor de cachorro é o mais incondicional de todos.

Acho que todo mundo já falou e não custa repetir a forma como eles trabalharam bem a relação, ou melhor, os laços entre os personagens, como cada um dos membros da turminha completa o outro, chegando a um equilibrio. Como Lu e Vitor enriqueceram personagens que já eram ricos. Ou como as cores do livros são maravilhosas. Gosto desses tons pastéis que o Vitor usa desde Duotone.

Duotone

Maravilhoso como o trabalho da Lu fortalece o do Vitor e vice versa. As páginas feitas pela Lu (inclusive as artes da contracapa) dão uma dimensão ainda maior para a história, tornando o background da aventura em busca do Floquinho ainda mais consistente.

A delicadeza dos traços da Lu é algo excepcional, e, confesso que fiquei particularmente apaixonada pelo cabelo do Cascão que ela fez.

Mas não é só a relação entre os quatro que é tão bem delineada, mas também a do Cebolinha com sua família, ou das famílias entre si (adorei o Xaveco brincando com a Maria Cebolinha), tudo mostrado em poucos, mas precisos, quadros.

Entretanto, são os detalhes no decorrer da história (e aqui vem os SPOILERS), que me conquistaram de vez.

Detalhezinhos que são cereja do sundae:  por exemplo, o  Cascão de Capitão Gancho parando para beijar a Cascuda, apesar de fugir da Monica, o Titi cantando a Aninha, o Xaveco se ferrando, a aparição da Xabeu, a cena do Cascão correndo de um lado do outro no quadrinho vigiando os amigos dormindo.

Adorei o modo como usaram a referência a Peter Pan, que eu achei que ia ficar só no começo, mas que depois foi bem reaproveitada, e comecei a viajar no fato de que, apesar da turma da Mônica Jovem, eles são meio como Peter Pan, pois nunca crescem.  Na história eles são literalmente, Meninos Perdidos, mas acabam, também, metaforicamente, o sendo.

Outras coisas interessantes  são: o fato como os Cafaggi conseguiram sugerir a falta  de dedões no Cascão, Mônica e Magali, ao perderem os sapatos e ficarem só de meias, enquanto o Cebolinha continua calçado (acho que tem alguma história que fala isso, mas não tenho certeza), ou o quadro do quarto do Cebolinha  como Tocador de Pifaro, tal qual apareceu na clássica série Quadrões da Turma da Mônica, ou o Cebolinha ainda ter o caminhãozinho que o Cascão deu primeiro dia que se conheceram (coisa que a gente só vai ver no final da história), a história do Maurício criança, e as histórias da turminha ao redor da fogueira, que são, para quem tem uma memória relativamente boa, referências a outras histórias da Turma da Mônica.

Quadrões Vol 01


A estante de brinquedos do Cebolinha é um caso a parte, com Homem-Aranha, Optimus Prime, He-Man, Lion-O. Quem já leu Puny Parker, sabe que o Peter também tinha alguns desses brinquedos, o que me faz pensar se não seriam os brinquedos da infância do Vitor.

Puny Parker # 121 por Vitor Cafaggi

Obviamente não poderia deixar de falar nas participações especiais no decorrer da história:

Manual do Patinho Escoteiro é obviamente referência ao saudoso Manual do Escoteiro Mirim, leitura quase obrigatória para o pessoal da minha geração (que é a mesma do Vitor).



Os arquinimigos da Turminha são a cara da Turma da Luluzinha, é fácil identificá-los com Bolinha, Lulu, Glorinha, Aninha, Carequinha, Zeca, Juca, Plínio. Que aparentemente são "garotos malvados", mas que mostram seu caráter nobre ao cederem bicicletas ao Cebolinha e seus amigos prosseguirem na busca por Floquinho.

Turma da Luluzinha

Claro que quem cresceu vendo Chaves deve ter também percebido que um certo vendedor de churros chamado Ramon é ninguém mesmo que Don Ramon, conhecido aqui como Seu Madruga.

Seu Madruga vendendo churros

 Não poderia deixar de falar da sequencia de abertura de Laço, que tem um quê da sequencia dos Goonies (minha sequencia favorita de abertura de filme de todos os tempos), apresentando os personagens em uma perseguição com várias coisas acontecendo em paralelo. Também amei o modo como terminaram a graphic exatamente com uma sequencia igual ao do começo, fechando um ciclo e começando outro, lembrando que a turma da Mônica possui em sua essência essa coisa  de situações se repetirem e se renovarem.

Laços simplesmente tocou meu coração.

Quem tiver a oportunidade de ir na Casa dos Quadrinhos ver os originais depois de ler a graphic, não vai se arrepender.



Para encerrar, gostaria de citar o Sidney Gusman, que disse exatamente o que penso sobre os dois irmãos:

"Dois dos mais promissores talentos do quadrinho nacional, Vitor e Lu Cafaggi têm uma qualidade rara: eles transmitem uma carga absurda de emoção em suas histórias, sem nunca pender para o piegas. Muitos tentam isso; poucos conseguem." 
                                                    Sidney Gusman, editor de Turma da Mônica – Laços

ps- O Rafael da Costa Silva me falou no  Facebook que tem também referência a Warriors, mas como não vi o filme, me passou despercebido. Se alguém observar mais alguma coisa, sinta-se a vontade para deixar nos comentários.

3 comentários:

  1. Ótima resenha,vou logo comprar Laços!.Sou Ilustrador e quadrinista e os irmão Cafaggi são uma grande inspiração pra meu trabalho.

    ResponderExcluir
  2. Excelente Ana. O meu exemplar tá a caminho! Beijos.

    ResponderExcluir