quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Um pouquinho do Japão...


O Catador de Batatas e o Filho da Costureira ou O Filho da Costureira e o Catador de Batatas.

Lançado pela JBC para comemorar os 100 anos da Imigração Japonesa e realizado pelo desenhista Bruno D’Angelo e pelo roteirista Ricardo Giassetti, “O Catador de Batatas e o Filho da Costureira ou O Filho da Costureira e o Catador de Batatas”.
conta a história de Ikemoto, um imigrante japonês, e Isidoro, um descendente de escravos:

O Catador de Batatas
IKEMOTO está em fuga de seu próprio passado. Sua família e toda a classe samurai se viu esquecida após a Reforma Meiji. Sem posses e sem futuro, Ikemoto vê o Brasil como um refúgio distante para curar as mágoas de seu passado. Veterano da guerra russo-japonesa (1904-05), foi prisioneiro de guerra no navio Kazan, agora de posse da frota japonesa sob o nome Kasato Maru.

O Filho da Costureira
ISIDORO não conheceu nem sua mãe nem seu pai. Foi criado por Dona Nâna, costureira de grande coração que acolhe crianças rejeitadas. Vivendo como colonos em uma fazenda de café, Isidoro destaca-se como um garoto esforçado e inteligente, o que o faz ser uma figura deslocada nesse ambiente rústico. Sem muitas perspectivas devido ao preconceito racial, Isidoro e Ikemoto acabam unindo forças e compartilhando problemas que os encaminham para um destino comum: a fuga para uma nova vida, com novos desafios e conquistas. 
(extraído do site da JBC)


A idéia da revista é sensacional. O título duplo é justificável porque na realidade são duas revistas em uma. Lendo-se da esquerda para a direita (o modo ocidental de se ler) vemos os fatos da perspectiva de Isidoro com os textos em português e legendas em japonês no rodapé; da direita para esquerda, a história de Ikemoto é contada no modo oriental de se ler, em japonês com notas em português.

As duas histórias convergem para um único final que se encontra no meio da revista, o que parece intencionalmente ser uma metáfora para os encontros das histórias e culturas que tornaram o Brasil o que ele é.


Contudo, apesar da premissa criativa e interessante, o resultado final é um pouco desanimador. 

Para começar, o resumo do site da JBC que eu coloquei aqui explica muito mais a história que o texto original. Quando nós lemos as trajetórias de Isidoro e Ikemoto, muitos fatos ficam obscuros ou são pouco explicados e explicitados. Muitas vezes me peguei perguntado sobre o que exatamente aconteceu, como se imensas lacunas tivessem sido deixadas no decorrer da narrativa.

Na realidade, essas lacunas realmente existem, vários fatos são mencionados porém não mostrados, como o modo pelo qual Ikemoto ajudou uma família de imigrantes com o racionamento de alguns alimentos (eu acho...). Aliás, não se sabe porque o menino da família auxiliada por Ikemoto deduz que o ex-militar era um catador de batatas, apesar de nunca ter sido um.

A suposta amizade entre Isidoro e Ikemoto é mal desenvolvida, e não se entende porque no fim das contas eles decidem se juntar e partir juntos do povoado que habitam. Parece algo completamente “deus ex machina” a amizade e aliança formada entre os dois.

Os desenhos deixam um pouco a desejar, muitas das cenas parecem  esboços de croqui, se tornando tão confusos quanto a história.

Uma pena, pois os personagens são potencialmente interessantes e a ideia para uma homenagem a dois povos que tanto contribuíram para a formação do Brasil era genial. 

Vale ler apenas como uma curiosidade... lamentando-se que o resultado final fique tão aquém do desejado.


Minhas Imagens do Japão


Em compensação, a editora CosacNaify publicou um tempo atrás  Minhas imagens do Japão, com texto e ilustrações de Etsuko Watanabe, traduzido por Cássia Silveira.

A autora traz aos leitores o dia a dia da pequena Yumi e de seu irmão caçula Takeshi em seu dia a dia no Japão.


Ela descreve todo o dia a dia daquelas crianças, a casa, o quarto de dormir, os apetrechos para se ir na escola, as refeições, a comida, a higiene pessoal, até mesmo o banho público. Assim como os festivais anuais e as tradições...

Tudo de um modo tão suave, inocente e natural que é nos é impossível não adentrarmos naquela cultura com olhos de aceitação, curiosidade e interesse.



Sei que usualmente não gosto de fazer isso, preferindo escrever minhas próprias observações, mas, encontrei uma resenha tão perfeita sobre esse livro que achei válido reproduzi-la aqui:

“Mais que uma crônica da vida urbana no Japão contemporâneo, esse livrinho guarda a chave para compreendermos um fato muitas vezes esquecido: que, apesar das diferenças, somos todos, essencialmente, seres humanos. Não é pouco. 

Quando os meios de comunicação e a Internet nos bombardeiam com toneladas de informações superficiais ou inúteis - em que podemos vislumbrar, quase sempre, generalizações injustas e perigosas -, as diferenças culturais passam mais a afastar do que aproximar as pessoas, transformando o outro, o estranho, no rival, no inimigo. 

Como vive uma menina de sete anos no Japão? Nesse lugar tão longínquo - não apenas em termos geográficos -, o que há de diferente e de semelhante em relação a nós? 

Para responder a essa pergunta, Etsuko Watanabe nos apresenta o Japão e seu povo: os utensílios do cotidiano, os objetos escolares, a vida em família. E como a mesa é posta, quais as vestimentas do dia-a-dia, algumas brincadeiras - as minúcias, enfim, que constroem uma civilização. Conhecemos também as palavras, com seus sons inesperados, às vezes surpreendentes, donas de uma eufonia para a qual precisamos reeducar nossos ouvidos. 

A beleza do estranho nos assalta em inúmeros trechos da obra. A autora, formada pela Musashino Art University e com mais de sete livros infantis publicados, não despreza sequer os aspectos da intimidade. A importância da hora do banho, os vasos sanitários - curiosos e eficazes - e os banhos públicos - uma característica dessa cultura que não submeteu a nudez humana ao arbítrio da absoluta privacidade: todo o engenho do conforto e da higiene de uma civilização está resumido nesse livrinho. 

De repente, percebemos que não estamos distantes do Japão dos samurais, e é como se pudéssemos vislumbrar, sob cada gesto - principalmente sob os hábitos e a disciplina escolares -, o código de honra desses antigos guerreiros. 

Nada é esquecido: das brincadeiras infantis às superstições, à busca da sorte e da ajuda dos deuses; as lendas e os costumes; as crenças pueris do povo e as festas que as materializam, comemorações que são marcos da passagem do tempo, cujas alegrias podem conceder uma nova força à vida banal, fragmentada entre o trabalho e as poucas horas de descanso. 

Introdução a um mundo diverso do nosso, a obra de Watanabe oferece possibilidades quase infinitas de se trabalhar com as crianças, não só para diverti-las, mas também para mostrar como as diferenças, se quisermos, podem mais unir do que separar as pessoas. Sob o olhar imparcial de uma menina capaz de se encantar com as menores coisas, Minhas imagens do Japão descreve um povo cujas tradições e história engrandecem a espécie humana”. 

(por Rodrigo Gurgel – “A beleza do diferente” em http://educacao.uol.com.br/resenhas/imagens-japao.jhtm)

Enfim, apesar de ser um livro infantil, é uma leitura indicada para qualquer que seja a sua idade. 

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