Aproveitando os 70 anos do Batman neste mês, nada melhor do que fazer uma retrospectiva sobre uma das mais marcantes presenças femininas no universo do Batman: a Batgirl. Abordar a Batgirl apenas como a contraparte feminina do Cavaleiro das Trevas significa empobrece-la, além de ignorar toda uma riqueza de detalhes referentes não apenas a personagem propriamente dita, mas também em relação à mudança da concepção de heroína através dos anos.
Quando se pensa ou se fala em Batgirl, a primeira personagem que nos vem à cabeça é a marcante Barbara Gordon, mas o que pouca gente sabe é que antes dela existiram outras "batgirls". Já aquelas que a sucederam ainda estão frescas nas memórias dos leitores. A primeira "batgirl" não usava essa alcunha, era chamada de Batwoman. Ela não é muito conhecida no Brasil, embora talvez alguns compradores da antiga Coleção Invictus, da Nova Sampa, podem acabar se recordando dela.
O nome verdadeiro de Batwoman era Kathy Kane, numa explícita homenagem a Bob Kane, o criador do Batman. Criada no final dos anos 50, Kathy era a dona de um circo que se muda para Gotham City após herdar uma fortuna. Dividia uma tediosa vida de socialite com a excitante carreira de vigilante durante a noite. Como muitas heroínas da Era de Ouro (a Phanthom Lady, por exemplo), Kathy se tornou heroína muito mais por uma questão de diversão que por um desejo de fazer justiça. Além de ser uma exímia trapezista, Kathy se valia de alguns acessórios bastante peculiares para lhe auxiliar nos combates contra o crime, tais como o pó-de-arroz e batons explosivos. Ocasionalmente, era utilizada como objeto de interesse romântico de Batman. Depois de um tempo, a personagem acabou se aposentando e voltando para o circo. Fez aparições periódicas nos quadrinhos até os anos 70.
A primeira personagem a realmente usar o codinome Bat-Girl (embora grafado com hífen) foi Betty Kane, sobrinha de Kathy Kane. Betty fez poucas aparições nos quadrinhos, durante a década de 60, mas o suficiente para não ser esquecida e ganhar uma reformulação após a Crise nas Infinitas Terras. Sua motivação na luta contra o crime não era muito diferente da de sua tia, somando-se a isso um desejo de impressionar Robin, por quem tinha uma quedinha. Sempre que visitava Gotham, juntava-se a Kathy em suas aventuras.
Agora praticamente relegadas ao limbo, Kathy e Betty surgiram no bat-universo, segundo as más línguas, para afastar os rumores sobre uma relação homossexual entre Batman e Robin - o que foi insinuado pelo psiquiatra Fredric Wertham em seu livro Seduction Of The Innocent (1954), uma das "bases" que impulsionou uma caça às bruxas contra o gênero na época. Enquanto Kathy Kane, até recentemente, acabou por desaparecer quase que completamente do atual universo DC, Betty Kane se transformou. Passou a se chamar Bette Kane (com "e" no final, notem a "grande" diferença) e assumiu a identidade de Flamebird. Chegou a fazer parte de uma facção dos Novos Titãs e continuava a ter uma quedinha por Robin (Dick Grayson), agora conhecido como Asa Noturna, agora mais na base da tietagem. Depois de conhecer seu herói, percebeu que as coisas não eram como desejava. Curiosamente, seu nome pós-Crise está intimamente ligado como o novo codinome adotado por Grayson. Nightwing e Flamebird eram os nomes de dois heróis kriptonianos que habitavam a cidade engarrafada de Kandor, e que também desapareceram durante a Crise. No Brasil eles eram conhecidos como Asa Vingadora e Sólaris (nada a ver com o ex-integrante dos X-Men, que é de outra editora XD). Como Dick já havia assumido o nome de Nigthwing, nada mais lógico para os roteiristas que seu antigo "amor" pré-Crise... adquirisse a alcunha do outro kriptoniano.
A terceira Batgirl é a já citada Barbara Gordon. Sua primeira aparição nas revistas em quadrinhos se deu na revista Detective Comics # 359 (1966). Nessa história, Barbara estava se preparando para ir a uma festa a fantasia vestida de Batgirl, quando no caminho impediu que o vilão Killer Moth e sua gangue seqüestrassem Bruce Wayne, o Batman. Quase simultaneamente a personagem surgiu na série de tv do Batman, sendo interpretada por Yvonne Craig. Originalmente concebida como filha legítima do Comissário Gordon, Barbara era uma jovem bibliotecária quando não estava lutando contra o crime. Durante um período, suas aventuras estavam atreladas às da dupla dinâmica, mas com o passar do tempo foi adquirindo mais independência, força e personalidade. Passou a estrelar mais aventuras solo, ou em parceria com a Supergirl/Kara Jor-El. Também se tornou congressista, atuando fora da esfera de Gotham City.
Após a supra citada Crise..., alguns aspectos de sua vida foram alterados, embora não muitos. De filha legítima de Gordon, passa a ser sobrinha e filha adotiva. Seu pai passou a ser o irresponsável e viciado irmão de Gordon, morto em um acidente de automóvel com a esposa.
Depois de anos lutando contra o crime, ironicamente ficou paraplégica quando o Coringa a baleou estando ela sob a identidade de Barbara Gordon - e ele, sem saber que ela também era a Batgirl. O vilão foi até a casa do Comissário para seqüestra-lo e assim comprovar sua teoria de que qualquer homem bom pode se tornar vil e louco, se submetido a um dia desesperadamente ruim. Essa história foi mostrada no especial A Piada Mortal, escrita por Alan Moore, e considerada uma das melhores do Batman.
Decidida a continuar atuando como heroína, Barbara assumiu o codinome de Oráculo e passou a ajudar os mais diversos heróis do Universo DC utilizando os mais complexos computadores e suas habilidades de hacker. Começou trabalhando com o Esquadrão Suicida e já fez parte da Liga da Justiça. Atualmente, ajuda Batman e os demais vigilantes de Gotham nas mais diversas missões.
Uma versão de Barbara, como Oráculo, pôde ser vista na telessérie Birds of Prey, interpretada pela atriz Dina Meyer.
Outra Batgirl que deve ser citada (essa, infelizmente) é Barbara Wilson, que apareceu no filme mais trash (e mais odiado) da série cinematográfica do morcego, Batman e Robin. Interpretada por Alicia Silverstone, Barbara era a sobrinha de Alfred Pennyworth e ajudou Batman e Robin no combate contra Mr. Freeze, Hera Venenosa e a versão tosca e burra de Bane. Da contraparte quadrinística foram preservados seus conhecimentos em computação e seu lugar de interesse romântico de Robin (Chris O´Donnell). Seu uniforme é baseado no da Caçadora.
Falando na Caçadora, é ninguém menos que ela a assumir o manto de Batgirl depois de Barbara Gordon nos quadrinhos.
Nos quadrinhos é conhecida como Helena Bertinelli. Vinda de uma das mais importantes famílias de mafiosos de Gotham, viu os pais e o irmão serem assassinados diante de seus olhos quando criança, devido a uma desavença entre os clãs. Adulta, tornou-se a vigilante Caçadora para lutar exatamente contra as pessoas com quem conviveu durante toda a vida. Mais radical e sanguinária que o Batman, freqüentemente eles entram em conflitos ideológicos. Mesmo assim, Helena busca a aprovação do Morcego, apesar de negar isso.
Helena Bertinelli se tornou a Batgirl durante a saga No Man's Land (Terra de Ninguém), publicada em formatinho e na série Premium pela Editora Abril. Durante a Terra de Ninguém, Gotham, depois de ser vítima de vírus letais e terremotos, foi isolada do resto dos Estados Unidos, regredindo a um cotidiano quase medieval. Com a demora de Batman em auxiliar sua cidade, Helena passou a agir como Batgirl, sem deixar sua identidade de Caçadora de lado, tentando-se valer do mito do Morcego para salvar a cidade sem permissão de Barbara Gordon ou do Batman. Inicialmente após seu retorno, Batman a aceita no cargo, apesar da oposição de Barbara. Entretanto, após um erro fatal, Batman passa o uniforme de Helena para uma nova Batgirl.
No seriado Birds of Prey, a Caçadora é Helena Kyle (Ashley Scott, Inteligência Artificial). Criada por Barbara Gordon, viu sua própria mãe ser morta quando criança. Na realidade, ela é filha de Bruce Wayne, o Batman, e de Selina Kyle, a Mulher Gato. Possui poderes "felinos" como visão noturna, força e agilidade sobre-humanas.
Originalmente nos quadrinhos, muita gente não sabe mas a Caçadora era mesmo filha do Batman e da Mulher Gato. Antes da Crise nas Infinitas Terras, que deu uma "ajeitada" na cronologia da DC, Helena Wayne habitava a Terra 2. Era advogada durante o dia e vigilante durante a noite. Sua mãe, já casada com Bruce Wayne, foi assassinada por um ex-comparsa de seus tempos de Mulher-Gato. Seu pai, após a morte da esposa, tornou-se comissário de polícia e morreu numa missão, durante o breve período em que voltou a agir como Batman. Helena morreu durante a Crise Crise nas Infinitas Terras
A sucessora de Helena foi a adolescente Cassandra Cain, que durante a Terra de Ninguém era uma dos operativos de Oráculo na cidade. Filha adotiva do assassino de aluguel David Cain, ela foi treinada por ele para ser uma máquina humana assassina. Para isso, ela aprendeu apenas a identificar a linguagem corporal, não conhecendo em princípio nenhuma linguagem verbal. Graças a um telepata aprendeu a falar, mas perdeu momentaneamente suas capacidades de leitura corporal. Recuperou-as graças a Lady Shiva, a mais mortal lutadora de todo o mundo, com a condição de que futuramente elas lutassem novamente. Possui uma personalidade meio autodestrutiva, apesar (ou quem sabe por causa) de todo o seu talento como combatente do crime. Isso talvez possa ser explicado pelo fato de ter, aos nove anos de idade, matado um homem estando sob influência do pai, o que fez com que ela fugisse dele e jurasse nunca mais matar.
Cassandra abandonou o manto de Batgirl recentemente, após a saga Rest in Peace (atualmente sendo publicada no Brasil).
No lugar dela surgiram duas novas Batgirls.
A primeira é Charlotte "Charlie" Gage-Radcliffe, que apareceu primeiramente em um arco da série Birds of Prey escrito por por Gail Simone. Ao contrário da maioria das Batgirls, Charlotte possui super-poderes, tais como superforça, teletransporte e fator de cura. Depois de um encontro com Barbara, ela acaba deixando o codinome de Batgirl e passa a se chamar Misfit/Marginal (usando um uniforme que ainda lembra o antigo uniforme de Gordon, o M estilizado muito parecido com um morcego). Ela faz parte das Aves de Rapina e dos Novos Titãs.
A segunda e atual Batgirl é Stephanie Brown, que herdou a alcunha diretamente de Cassandra Cain. Filha de um super-vilão, Mestre das Pistas, Steph - para os íntimos -iniciou sua vida de super-heroína com o codinome de Salteadora (Spoiler), e, no meio do caminho acabou por se envolver romanticamente com Tim Drake (o terceiro Robin).
Acabou por descobrir que estava grávida de um ex-namorado, chamando a atenção para o tema "gravidez na adolescência" fazendo com que "Robin" fosse aclamada como a melhor série contínua do ano pela Wizard Magazine na época. A criança acabou sendo dada para a adoção.
Assumiu o papel de Robin por um tempo, enquanto Tim Drake esteve afastado, e havia sido dada como morta durante um breve período.
O time das "mulheres-morcego" foi novamente reforçado pelo retorno da Batwoman. Primeiramente na animação O Mistério da Mulher Morcego (2003), onde três mulheres, Sonia Alcana (detetive da polícia), Roxanne Ballantine (técnica de informática das Wayne Enterprises) e Kathleen Duquesne (filha de um mafioso) alternam no papel de heroína, com o intuíto de se vingarem do Pinguim, de quem foram vítimas.
Nos quadrinhos, a nova Batwoman é Katherine "Kate" Kane, herdeira de uma das famílias mais ricas em Gotham City. A personagem chamou a atenção da mídia mundial por sua orientação sexual. Kate Kane é lésbica e é ex-amante da detetive Renée Montoya.
Após essa retrospectiva sobre as bat-heroínas não há como não afirmar que, apesar de muitas terem sido aquelas que usaram o nome de Batgirl, cada uma refletindo o período em que foram concebidas, todas acabaram por se mostrar como mulheres de grande importância e destaque na vida do Homem-Morcego. Pensar na mitologia de Batman sem levar em conta a(s) Batgirl(s) é deixar de fora um importante (e charmoso) pedaço da história.
Nota: Para quem não sabe, a saga Crise nas Infinitas Terras (publicada em 1985, escrita por Marv Wolfman e desenhada por George Perez) teve como função arrumar o balaio de gatos que se tornou a cronologia da DC, com suas centenas de Terras paralelas. As Terras foram fundidas numa só, e muitos personagens morreram ou foram alterados.
Matéria revista e ampliada, publicada originalmente no site Abacaxi Atômico em 2004:
(http://www.abacaxiatomico.com.br/obalaio/kingdom/antigos/frame20021117.htm)
Na próxima semana, ainda em clima de Bat-comemorações, mais uma retrospectiva sobre a mais famosa arqui-rival do Morcegão: Mulher Gato
Exposição Batman 70 anos: uma homenagem
Clique para ver ampliada
Palestra
Data: 24 de novembro de 2009
Horário: 19h
Local: Teatro da Biblioteca (Praça da Liberdade, 21)
uau, mestra em psicologia!?
ResponderExcluirtal como a mamãe monkey!
sério, minha mãe é psicóloga também.
mas em fim, adorei o blog, e tomei a liberdade de adicionar a lista de blogs legais do meu blog.
eu estou aguardando impacientemente pelo próximo post^^
...
Ótimo blog! To aprendendo muita coisa aqui!
ResponderExcluirNem sabia que existiram tantas Batgirls...
O.O
ResponderExcluirWOW! Não sabia que havia tantas!
Gostei... LOL
Se bem que eu sempre tive raiva da Bárbara ter ficado paraplégica e ainda mais por causa do Coringa (pq eu amo ela e odeio ele, o q piorou dp q soube desse trato q o Sr. Risadas deu nela... >.<)
Eu lembro q uma amiga minha disse q a namorada do Tim Drake havia morrido pouco dp do pai do menino (nos quadrihos)... era essa Stephanie, nera? E ele se afastou qdo? (nao sabia)
Eu adoro o Tim, apesar de soh o conhecer mesmo no "novo" batman (o Gotham Knights). LOL
Se bem q tb adoro o Dick Grayson... principalmente dp dele se reatar com o Batman... LOL
Bjos! ^^
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