Sei que estou começando o artigo de modo absurdamente clichê, mas não vejo outra maneira de começar, portanto, se vocês não fizeram uma viagem forçada para Marte ou qualquer outro planetinha fora dos confins do nosso azul terrestre certamente ouviram falar de Crepúsculo (Twilight), a série de romances teen estrelada por vampiros e lobisomens escrita pela Stephanie Meyer.
Talvez, algum dia eu possa fazer as minhas reflexões sobre os livros (e o mar de pró e contras apaixonados de defensores e detratores), contudo, hoje estou aqui para falar de outra coisa.
A série, sendo um imensurável sucesso, acabou gerando infinitos derivados, incluindo, claro, fanfics (eu recomendo esta aqui:
New Dawn) , fanarts e sátiras, um trabalho acabou ganhando imenso destaque entre os fãs: as tiras Crepusculinho, criados por Robson Reis.
Para quem ainda não teve a oportunidade, Crepusculinho ou Twilittle, satiriza de forma muito divertida, as desventuras de Edward Cullen, Bella Swan e todo o elenco de personagem da saga Twilight.
Contudo, Robson Reis é muito mais que Crepusculinho. Ele é praticamente um “homem-bombril”, pois além de desenhar, escrever, faz toy arts personalizados, esculturas e muito mais.
Um dos primeiros trabalhos dele foram os fanzines 
Sérebro e Neurônio, que podem ser encaradas como uma versão “otaku” e tresloucada das sátiras Mad. Traduzindo, são paródias absurdas de animes e mangás, como Dragon Ball, Samurai X, Sailormoon, juntado também filmes de sucesso como Matrix.
Enfim, acho que estou me alongando demais e é melhor passar a palavra para o nosso convidado de honra. Com vocês, Robson Reis:
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KATCHIANNYA:Fale para gente um pouco sobre você e o seu trabalho. | 
 
 
ROBSON: Eu sou uma das pessoas que vão dominar o mundo, sou um nerd comtemporâneo hehehe. Sabe essas pessoas que falam de praticamente qualquer assunto, sou informado, mas vai saber mesmo de quadrinhos e cinema. Adoro desenhar desde sempre, não lembro de mim sem ser desenhando ou pensando em desenhar, sempre preferi desenhar mulheres que super heróis, e depois descobri que a maioria dos desenhistas tinha dificuldade de desenhar mulher e achei entranho, também sempre adorei desenhar mãos e pés e quase todo mundo odeia. Ou seja, eu sou estranho dentro do grupo que já é considerado estranho. 
Por muito tempo trabalhei fazendo trabalho freelance para quem pagasse mais (mercenário ilustrador ?) depois comecei a fazer charges em jornais da região e a dar aulas de mangá, já que quando teve o BooM dos mangás em 2000 eu era um dos poucos da região que entendiam do assunto e sabiam desenhar no estilo. Logo depois comecei a trabalhar numa agência de publicidade e fiquei até 2007 quando resolvi sair para fazer trabalhos próprios. Agora em 2008 fiz Crepusculinho e as pessoas me conhecem, mas a tirinha em  que eu estava me empenhando em divulgar era uma chamada Orkutonauta, Crepusculinho foi uma brincadeira que agradou e cresceu...Ou seja, o público que manda.
 
 
 
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K: Como surgiu a idéia de criar o Crepusculinho? 
R: Crepusculinho surgiu da minha necessidade primária de fazer piada de   quase tudo. Assim que terminei de ler o livro já veio na cabeça que tinha   muito material para ser zuado, porém, sabia que existia uma legião de fãs e   pensei....Vão me linchar, fiz duas tirinhas e ia ficar só nisso mesmo. Mandei   pra uma amiga que tinha lido Crepúsculo, ela viu e falou para eu mandar pra   sessão de fanart do Foforks, mandei e já vi que minha morte estava perto e...   Adoraram as tirinhas e pediram em massa para que eu entrasse (no site) 
 
K: Pelo que eu conheço do seu trabalho, você consegue ter uma   versatilidade de estilos, em Sérebro e Neuronio, seu traço é mais próximo do   mangá, no Crepusculinho puxa para o cartoon e o Orkutonauta é completamente   estilizado. Tem algum estilo de desenho que você prefira fazer? Algum que   você ache mais “Robson Reis”? | 
 
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R: Eu gosto de um estilo hibrido mesmo meu   mangá tem muito de cartoon e vice versa, mas se reparar bem meu traço lembra   mais traço de desenhos da Disney, que foi algo que li muito quando criança,   adorava as histórias do Tio Patinhas e só recentemente fiquei sabendo que   elas tem uma enorme importância no mundo dos quadrinhos, principalmente as de   Carl Barks, que eram as minhas preferidas. Vendo desenhos animados eu   assimilei muito dos traços, posso até dizer que minha versatilidade vem de   desenhar vários estilos apresentados em desenhos animados. 
 
K: O quanto a sua vida pessoal influencia nas histórias que você escreve   e ilustra, e vice versa?
 
R: Quase nada, eu não sou muito auto- biográfico, gosto mesmo de inventar   histórias. Tem vezes que eu pego a vida dos outros e uso de referência. Uma   coisa é certa sempre tem um personagem que sou eu. No Crepusculinho eu me   personifico no Nenão (a versão do Emmet Cullen) 
 
   
 
K: Quais seriam as principais influências no seu trabalho? | 
 
R: Desenhos animados e filmes, eu sempre tentei fazer desenhos que lembrassem essa mídia. Depois que comecei a identificar autores, desenhistas, comecei a desenhar de modo bonitinho com uns 4 anos, com 6 já conseguia fazer desenhos iguais aos dos gibis da Disney, com falta de técnica, mas iguais. Com uns 12 anos que comecei a saber que existiam grandes desenhistas e criadores como Jack Kirk, Stan Lee. Me influenciei muito antes do boom dos mangás pelo traço japonês. Adorava o desenho animado do Rei Arthur que passava no SBT, e tentava misturar o traço com o americano. Quando eu tinha uns 16 anos muita gente perguntava se eu era fã do Joe Madureira por eu apresentar um traço hibrido, mas eu nem sabia quem era o cara. Depois que fui ver que tínhamos semelhanças e tratei de acabar com elas. Adoro o traço do Sr. Kubert e do Sal Buscema, e do John Romita pai e do Junior e como eles resolvem as situações de modo simples e eficaz. Acho muito legal resolver questões de desenhos com poucos traços mas de modo limpo e bem feito. Adoro Will Einsner e como trabalha luz e sombra. Gosto de preto e branco. Adoro o trabalho da Clamp e do Eichiro Oda (One Piece) acho que o traço dele é louco, mas transmite muita emoção, que se perdeu no anime. Takehiko Inoue tem um trabalho puxado mais pro realista e seu trabalho no Slam Dunk e Vagabond me agrada também. Mas tenho um carinho especial pelo trabalho de Carl Barks e seu pupilo Don Rosa. E adorava o traço das histórias da Tina da década de 80, aprendi desenhar mulher ali. Pena que pela política de fazer crer que o Maurício de Souza desenha tudo, eu nunca pude saber de quem eu era fã. 
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K: Como você percebe o mercado de quadrinhos nacional e a vida de   quadrinista aqui no Brasil? | 
 
R: Percebo que não existe mercado de quadrinho nacional. Existem ótimos quadrinistas nacionais mas não existe mercado para eles, ai tem que optar por ir para fora do país. A vida é difícil, trabalho com isso há uma década e consigo sobreviver com trabalhos fora dos quadrinhos como ilustrações publicitárias. Quadrinhos mesmo saíram 3. Agora com Crepusculinho estou ganhando visibilidade. Por enquanto apenas de um grupo seleto de pessoas que curtem a saga de Stephenie Meyer, mas pretendo lançar material próprio e ver se agrada também. Espero que sirva de vitrine. 
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K: O que você acha da tendência de se utilizar a Internet como meio de   divulgação de artistas nacionais – e mesmo internacionais - através de   quadrinhos virtuais, blogs e galerias como as do DeviantArt? | 
R: Acho ótimo. Fanzines têm a desvatagem de precisar de um investimento para fazer as cópias. Já a internet permite que com um baixo custo se atinja uma quantidade gigantesca de pessoas sem um gasto colossal. Por que o importante é criar algo e ter um publico que goste do que você faz. Para isso você precisa chegar até o público e não existe nada mais eficaz hoje em dia do que a internet para tal objetivo. Claro não dá pra criar algo visando se tornar fenômeno, tem que ir produzindo e ter paciência, uma hora o povo te descobre.
 
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K: Como é que está sendo lidar com a fama vinda com o Crepusculinho e toda   essa rotina de participar de eventos, dar autógrafos e etc? | 
 
R: A fama é mais virtual, em 7 meses apenas uma pessoa me parou um dia e pediu autógrafo  fora de evento. Foi durante um pocket show da Malu Magalhães na Fnac de Campinas. A fama está apenas entre um grupo seleto que adora Crepúsculo. Eu gosto, muito aliás de conhecer pessoas e interagir. Acho que é o mínimo que posso fazer pelo carinho e atenção dispensada para meu trabalho. E eu sempre quis ser conhecido como desenhista, mas pensava que seria rodeado de garotos fãs do Batman querendo autografo por que eu fiz uma edição genial. E Deus me abençoou que invés de garotos estranhos, barulhentos, suados cheirando a Cheetos, tenho um público de garotas simpáticas, faladeiras e cheirando a Rexonna Teen...infinitamente melhor que cheiro de Cheetos hsuahsuahushausa. Bem eu sempre me dei melhor com garotas, tenho muitas amigas, acho que é até algo meio natural acabar atingindo esse publico, mas tem garotos que curtem também.
Na questão dos autógrafos eu acho estranho autografar um livro que eu não escrevi. Mas é divertido porque ilustra uma história que tantos amam. Os eventos são um meio de poder encontrar pessoas que acabo conhecendo virtualmente e isso é bom, acho legal conhecer as pessoas, sou acessível, não existe motivo pra ficar escondido.
 
Onde encontrar o trabalho do Robson Reis:
http://carademacaco.blogspot.com/
http://neuroclick.blogspot.com/
http://foforks.com.br/